Marília Alves Cunha*

A quarta feira de cinzas amanheceu ruidosa… Muito falatório, muita excitação, textão e textinho nas redes sociais, jornais e TV esperando ansiosamente a hora de descarregar sua conhecida aversão ao Presidente Bolsonaro. Qual o motivo disto tudo? Uma  twitada imprudente do presidente ou uma vontade deliberada e firme de jogar ao chão uma  eleição livre e democrática, realizada em 2018 e que, para alegria da maioria e tristeza de alguns alçou Bolsonaro ao cargo de presidente da república?

O nosso presidente é santo, perfeito, imune aos desarranjos que acometem quando em vez todos os seres humanos?  É algum salvador da pátria que, num passe de mágica fará desaparecer todos os problemas que se juntaram anos a fio, que se acumularam de maneira progressiva  e com tal intensidade que, às vezes, nos parece até impossível  resolvê-los? É dotado de todas as virtudes e sabedoria que se requerem para o cargo que ocupa? Claro que não e é preciso humildade e falta de arrogância para compreender isto. Ninguém votou num Deus soberano e onipotente ou em um mago isento de imperfeições. As pessoas, em maioria, votaram num homem simples, dotado de limitações ( como todos nós),com um discurso e um passado que nos punham cara a cara com o vitupério  de candidaturas, uma falsa, encenada por um presidiário, outra com sabor de repeteco de poste, que nos fizeram engolir por muitos anos.

Votei no presidente Bolsonaro, de acordo com minha consciência e tangida pela vontade de ver um Brasil diferente, melhor, mais  coerente com as aspirações do povo brasileiro. Um povo que deseja muito pouco:  trabalho, dignidade, justiça, paz social. Não me arrependi e não o faria por qualquer vão motivo. Não visualizo um governo ainda nascente, cheio de erros e imperfeições. Vejo sim, um governo seguido, perseguido e vigiado nos mínimos detalhes,  com isenção  daquele espírito que todo cidadão deve ter ( o preço da liberdade é a eterna vigilância). O espírito da  oposição é vigiar para destruir, podar, não deixar crescer, afogar até o último respiro…

Aprendi, principalmente com os petistas a ser resistente.  Num exercício de resgate do passado lembro-me, por ex., do mensalão, o célebre  “ big monthly  payment”… O núcleo de poder do PT sendo preso, depois de um julgamento que atraiu atenção do mundo inteiro  e Lula livre, leve e solto, poupado por forças poderosas  que não o queriam longe do trono. É difícil imaginar  que o chefão não estivesse a par de tudo, como é quase impossível pensar que o governante governava sem saber o que se passava debaixo do seu nariz. Se assim foi é preciso erigir ao Lula um monumento à incompetência!  Mas os petistas aplaudiram a inocência do seu  presidente,  benzeram o assunto e o enterraram. Ainda no governo  petista, mais exatamente em 2006,  tivemos a dispendiosa compra da refinaria de Pasadena/ Texas.  Graves suspeitas, não infundadas, de superfaturamento e evasão de divisas. À época Dona Dilma Roussef presidia o Conselho de Administração da Petrobrás. O Tribunal de Contas andou fuçando na história, mas o resultado foi para as calendas… O Presidente da República novamente calou-se,  instalou-se nas sombras do episódio. Não viu, não ouviu, não sabe de nada. Os petistas também…

Muita e muita confusão no entremeio, mas vamos direto ao Petrolão.  Aí a festa rolou grande e bagunçada, do Arroio ao Chuy. O Brasil definhava nas mãos de uma quadrilha que desviou bilhões  dos cofres públicos. A Petrobrás, esta grande empresa criada sob o lema “ O petróleo é nosso”, foi assaltada sistematicamente pelo grupo ocupante do poder e os inúmeros aliados que se juntaram para partilhar o “butim”. O Estado foi completamente aparelhado com a única finalidade de desviar bilhões dos cofres públicos. Esbórnia total e completa. Só que, desta vez, Lula não foi poupado. Penso que Deus apiedou-se do povo brasileiro e enviou um homem da lei, o juiz Sergio Moro, para comandar a maior operação já conduzida pela justiça federal no Brasil. O ex-presidente está preso. Mas apesar  de todas as provas, todas as evidências, todos os tribunais, Lula é inocente para seus seguidores que continuam a pregação sem sentido do “Lula livre”, ainda que Lula esteja engaiolado…

A coisa não termina por aí. Como golpe final e num total desrespeito ao povo brasileiro,  o PT  consegue eleger Dilma Roussef, a incompetência personalizada, para que o projeto de poder continuasse e, quem sabe, pelo medo de que se remexesse no repositório de corrupção em que se transformara o Brasil. Bem, diante disto tudo e muito mais outras rapinagens produzidas pelo partido, o que fizeram os seus fieis  seguidores? Tornaram-se um exemplo de resistência, suportaram os mais duros golpes, as mais pesadas acusações. Não sei o que os incentiva e move, apesar de tantas evidências, nem quero entender.  De loucura basta a minha…

Não é por qualquer derrapagem do  presidente que deixarei  de acreditar nos seus propósitos. Estamos em começo de governo,  muita coisa ainda irá se assentar. O PT tinha ou tem um projeto de poder. Nós, eleitores de Bolsonaro somos mais ambiciosos. Temos um projeto de nação. Queremos um Brasil livre de ideologias que contrastam com liberdade e democracia. Queremos respeito aos nossos símbolos e, numa volta a um passado até recente, respeito as nossas autoridades. Queremos um país onde as leis não sejam letras mortas, mas que cumpram a sua função e pesem igualmente sobre todas as cabeças. Queremos um país onde possamos viver com dignidade e segurança, um país que acolha seus filhos num mesmo abraço e com as mesmas oportunidades, um país do qual nos orgulhemos  e no qual desejemos viver com confiança e tranquilidade todos os nossos dias…

*Professora, educadora, escritora