Antônio Pereira da Silva*

Segundo o escritor, historiador e político triangulino, Camillo Chaves, o primeiro branco a se estabelecer na região, foi uma mulher: a portuguesinha Ana que fugiu de Franca acompanhando o índio caiapó Manuel do Nascimento Chaves.
Missionários franciscanos subiam de Franca para o Sertão da Farinha Podre com o objetivo de catequizar o gentio. De uma feita trouxeram o filho do cacique Romari, sob a promessa de devolvê-lo um dia. O objetivo era educá-lo ao modo europeu e repô-lo na tribo para ser um intermediário facilitador da obra missionária. Foi batizado, aprendeu a ler e a escrever e, quando jovem, apaixonou-se pela filha da portuguesa Júlia Chaves que fazia cerveja para os padres. Impedidos de se casarem, pelo preconceito português, fugiram e foram para as terras tuchauas, no pontal do Triângulo.
Os padres entenderam que o Céu os ajudava. Procuraram o casal, confirmaram o casamento e ainda conseguiram sesmaria para que Manuel se estabelecesse. Foi assim que surgiu a Fazenda do Bugre, às margens do rio da Prata. Com a morte de Romari, Manuel assumiu o cacicado, mas permaneceu em sua fazenda onde possuía grande quantidade de escravos negros. Sempre visitada pelos missionários, a fazenda transformou-se num chamarisco para novos posseiros, entre eles o sargento-mor José Eustáquio, José da Silva Ramos e Joaquim Antônio de Moraes, todos localizados ali pela região dos rios da Prata e Tijuco.
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O Triângulo foi passagem de bandeirantes à cata de índios para escravizá-los e, posteriormente, à procura de minas de ouro. É possível que a primeira passagem do homem branco por aqui tenha sido em 1590. Com pequena bandeira, o capitão Sebastião Marinho saiu de São Paulo e chegou às nascentes do rio Tocantins, supondo-se que tenha atravessado o Triângulo. Poucos anos depois, em 1596, o capitão mor João Pereira de Souza Botafogo também saindo de São Paulo, atravessou o Triângulo com bandeira composta de mais de 100 homens.
Várias bandeiras vazaram o sertão do Triângulo a partir dos 600.
Sua História começa a formar-se com os Bueno pai e filho. O pai, o Anhangüera Bartolomeu Bueno da Silva, em 1682 esteve na terra goiá onde contou ter visto riquezas fabulosas. Levou consigo nessa viagem, seu filho de apenas 12 anos de idade que tinha o mesmo nome do pai. Em 1722, procurando refazer aquele caminho, o Anhangüera filho entrou pelos goiás, a pedido do governador paulista, d. Rodrigo César de Menezes, com o intuito não só de fazer novos descobertos, mas também de abrir uma estrada de São Paulo a Goiás. Seu trajeto dentro do Estado de São Paulo foi bem definido pelos historiadores, o mesmo não se dando após a travessia do Rio Grande. É certo que sua passagem se deu nas proximidades de onde seria Uberaba, que passou pelos altos do Rio Uberabinha e foi atravessar o Rio das Velhas no porto do Registro (Indianópolis). Daí seguiu até Porto Velho, no Paranaíba. Bueno Filho desvendou os caminhos para os sertões do centro-oeste e, por isso, ele e seus dois sócios receberam várias mercês, inclusive o direito de cobrança de pedágio na passagem de alguns rios. Ao longo dessas estradas, muitos se assentaram com o fito de negociar com aos passantes. A “Nobiliarquia Paulistana” relata a passagem de centenas e centenas de pessoas que subiram para Vila Boa, Goiás, à busca de riquezas, passando pelo Triângulo.
Bueno filho fundou Vila Boa e outros povoados. Encontrou também outras minas.
A descoberta do ouro propiciou a abertura de outra estrada, vinda de Minas Gerais, passando por Ibiá, Patrocínio e Paracatu. A picada de Goiás.
Não demorou para que a nossa região oferecesse sua parcela de contribuição à febre do ouro que arrastava multidões para os sertões sem temer intempéries, quilombolas e indígenas. Descobriu-se ouro no Desemboque. Esse ouro acabou sendo o responsável pela grande confusão de limites entre as capitanias de Goiás e de Minas Gerais resultando na determinação de d. João de que todo o Triângulo se passasse para Minas.
O Desemboque foi descoberto em 1759 por bandeiras saídas de Pitangui (uma) e Itapecerica (duas). Ele foi o primeiro núcleo habitacional branco da região e dele saíram praticamente todos os fundadores das demais cidades regionais.
Hildebrando Pontes nos conta que o primeiro núcleo habitacional ocorreu na Aldeia de Sant’Anna do Rio das Velhas (Indianópolis), em 1750, mas aí, o ajuntamento foi de indígenas.
O segundo núcleo habitacional branco na região deu-se em Araxá, a partir de 1780. Habitantes do Desemboque interessaram-se pela área do Barreiro aonde começam a chegar a partir de 1770.
Outro ajuntamento de homens brancos importante foi Uberaba, resultado da transferência de alguns moradores do Desemboque para aquele futuro município e a doação em 1812 de patrimônio para Santo Antônio e São Sebastião. Como ocorreu nas demais cidades, os povoados se desenvolveram em torno de capelas.
A partir dessa época começam a se fixar núcleos de brancos no Triângulo: Ituiutaba, que era São José do Tejuco (1839), Prata que era Vila de Nossa Senhora do Carmo dos Morrinhos (1811), Araguari que era Brejo Alegre (1815), São Francisco Salles (1835), Patrocínio (1807), Estrela do Sul (1818), Nova Ponte (1856).
Como se nota, a grande maioria das cidades triangulinas tiveram seu início nas bandeiras saídas do Desemboque e de um modo geral foram povoados por mineiros, os caminhos para o oeste do país.
OBS: São citados alguns locais como Desemboque e Araxá, que não pertencem ao Triângulo, pelo fato de estarem historicamente ligadas a ele (Fontes: Camillo Chaves, Hildebrando Pontes, Caio Prado Jr.).

*Jornalista e escritor – Uberlândia – MG