Rafael Moia Filho*

Somente após a última árvore cortada,
após o último rio ser envenenado,
o último peixe ser pescado.
Somente então o homem descobrirá
que dinheiro não pode ser comido.
Provérbio Cree

Desde 1985, quando o país através de uma eleição indireta saiu do julgo da ditadura militar, nós já tivemos sete presidentes/vice-presidentes eleitos tomando posse. Neste primeiro dia de 2019, foi empossado o oitavo presidente eleito pelo voto direto.
O fato comum entre estas posses é que sempre foram precedidas de um enorme clamor de otimismo popular. Fato que na grande maioria das vezes não se transformou em algo sustentável pelo período do mandato.
Quando Tancredo Neves com Sarney na chapa venceram Paulo Maluf e Andreazza numa eleição indireta, após a tentativa frustrada da aprovação da Emenda Dante de Oliveira que reestabelecia as eleições diretas no país, a onda de otimismo foi gigante nas ruas, no mercado financeiro e em todos os cantos do Brasil. Com sua morte repentina e a posse de José Ribamar Sarney, esse otimismo foi definhando aos poucos na medida em que a inflação crescia assustadoramente, minando a economia, os salários dos trabalhadores e o sonho da sociedade brasileira.
Em 1989, a primeira eleição direta depois do golpe militar de 1964, muitos candidatos, várias correntes ideológicas e partidárias numa eleição sem igual. A primeira com a instituição do sistema de segundo turno caso nenhum concorrente conseguisse 50% + 1 voto válido no primeiro turno. Fernando Collor de Melo venceu e o mesmo otimismo voltou a dar sua presença.
Um ano depois de muitas fanfarronices, ações de marketing e o confisco do dinheiro da poupança, o povo caiu em si, percebendo que aquele governo era um tremendo engodo. Seu processo de Impeachment levou ao poder Itamar Franco.
Com a implantação do Plano Real, Itamar conseguiu eleger Fernando Henrique Cardoso para dois mandatos consecutivos à frente dos destinos da nação. Sua posse foi cercada de muita pompa e circunstância. A economia não foi afetada nos quatro primeiros anos, porém, em seu segundo mandato, conseguido graças à compra de votos de 200 deputados no Congresso Nacional, à situação voltou a ficar muito ruim para os brasileiros. A ilusão da paridade do real com o dólar deu lugar a uma crise na economia que acabou facilitando a chegada ao poder em 2003 de Luis Inácio Lula da Silva do PT.
Mais uma vez ouve uma enorme onda de euforia que tomou conta da posse e dos primeiros meses de governo, isso o levou ao segundo mandato em 2007, porém, sem a mesma euforia, mas, ainda com gás e muito marketing para poder sustentar-se no poder e conseguir fazer sua sucessora.
Dilma tomou posse cercada de insegurança, a euforia deu lugar a um pequeno ceticismo, mas como ela era indicada por Lula, tudo foi se acertando e o primeiro mandato seguiu em frente.
Em 2014, nova eleição e Dilma consegue vencer Aécio Neves – PSDB e tomar posse em janeiro de 2015. Porém, neste momento o país foi rachado ao meio, ela tomou posse, mas não conseguiu governar. A bancada do PSDB aliou-se ao DEM, PMDB e demais partidos de oposição e os descontentes com o petismo e destruíram qualquer chance mínima que ela pudesse ter de fazer um bom governo.
O processo culminou com o Impeachment de Dilma Rousseff em agosto de 2016. Para boa parte dos brasileiros foi um golpe, para outra metade um processo necessário. Tomou posse seu vice, Michel Temer, do PMDB, hoje MDB.
Agora, em janeiro de 2019, tomou posse Jair Bolsonaro do PSL, um partido pequeno como era o PRN de Collor em 1990. Paira no ar um otimismo que para muitos é exagerado, enquanto para uma parcela da população é justificável, tendo em vista as promessas efetuadas ao longo da campanha pelo candidato.
O certo é que mais uma vez estamos diante de um novo momento político da Nação. Independente de qual tenha sido seu voto, precisamos estar atentos, aplaudir o que for feito de bom para o país e cobrar aquilo que está no programa de governo do novo presidente, fiscalizando suas ações e de seus ministros. Democracia não é apenas o ato de votar, mas sim a participação da sociedade cobrando, fiscalizando e acompanhando tudo que envolve nossos recursos e os destinos da Nação.

Escritor, Gestor Público e Jornalista