Ivan Santos*

O presidente Jair Messias Bolsonaro começou a abandonar os discursos da campanha nas cerimônias da posse no Congresso e após receber a Faixa Presidencial no Palácio do Planalto. Começou ontem a entrar na realidade da política nacional. Teve intenção de rever a nomeação do ex-ministro Carlos Marum para a Itaipu Nacional, talvez pressionado por algum companheiro de caçada de votos interessado por um cargo que rende R$ 27 mil por mês com a obrigação de comparecer a uma reunião a cada dois meses. Para ter apoio do MDB no Congresso, partido de Marum, o presidente ordenou que a nomeação de Temer fosse respeitada. Também após ouvir um porta-voz do Centrão mudou de ideia. Não queria a reeleição de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, mas diante da articulação do Centrão decidiu mudar a estratégia e deu ordem ao PSL, segunda bancada na Câmara, para apoiar a reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM) que prometeu encaminhar com celeridade a reforma da Previdência. Na prática a manutenção de velhos costumes políticos criticados pelo candidato Bolsonaro na campanha eleitoral está firme e vigente neste começo de governo. O presidente Bolsonaro, em troca de apoio político do MDB no Congresso mantém o velho estilo de “toma lá, dá cá”, agora com outra filosofia: “u’a mão lava a outra e as duas lavam o rosto”. Quem acompanha política sabe que não há ponto sem nó nem apoio sem retorno. Então toda mudança no processo político termina como era ou como sempre foi, apenas com um discurso diferente para engabelar a plateia. No entanto, para quem observa com atenção os primeiros movimentos do governo percebe que as despesas da administração continuarão sem mudanças significativas porque, em vez da extinção de ministérios que está a ocorrer, o que se vê é fusão de um em outro. Isto significa que as despesas não serão reduzidas, mas juntadas em um lugar predeterminado. E já há um racha significativo no governo. Este racha ficou claro no encerramento do discurso de posse ontem, do general Heleno, no Gabinete de Segurança Nacional. Insatisfeito com a influência dos evangélicos no governo, o general encerrou o discurso dele com as palavras: “Brasil acima de tudo”. Não completou a frase com a expressão: “Deus acima de todos”. Para bom entendedor, um pingo é letra.

*Jornalista