Ivan Santos*

Amanhã, Jair Messias Bolsonaro vai assumir a Presidência da República do Brasil com expressivo apoio popular revelado na eleição de outubro e com grandes problemas para enfrentar e resolver. Tradicionalmente, no Brasil, todo novo governante tem 100 dias após a posse para ajustar o governo e revelar as primeiras providências que tomará no exercício do mandato. Antes de assumir o poder Bolsonaro revelou que não faria concessões a governadores, prefeitos, deputados nem a dirigentes de partidos. Foi uma intenção que recebeu apoio da massa popular aborrecida com a política conhecida como “toma lá, dá cá”. A realidade do Brasil atual é complicada. Os novos governadores vão herdar um espólio caóticos e as prefeituras, quase todas inadimplentes, ameaçam fechar as portas. Já em janeiro o presidente Bolsonaro deverá começar a receber os primeiros governadores e prefeitos com listas de reivindicações e pedidos de socorro para pagar salários e contas atrasadas. O presidente Bolsonaro começará a perceber que o discurso da campanha, que durou até hoje, não produzirá mais efeitos benéficos. Os governadores e os prefeitos, em nome do povão, querem apoio para evitar colapso nas bases eleitorais. O governo já não será de transição. O povão espera que o “mito” descasque abacaxis ou, pelo menos, espalhe esperança. A violência na sociedade brasileira cresce e aparece e o novo presidente da República deverá começar a perceber que, para enfrentar a bandidagem não basta liberar portes de armas. Vai ser preciso algo mais. Também vai chegar a hora de afinar a viola com deputados e senadores para aprovar reformas, algumas difíceis de digerir. O presidente, que passou quase 30 anos na Câmara Federal como deputado, sabe que em negociações políticas não há ponto sem nó. Se ele não quiser conversar com os dirigentes dos partidos nem com os líderes de bancadas, vai ter que dialogar com os parlamentares individualmente para aprovar reformas. Também sabe que não será fácil negociar com bancadas como as da Bala, da Bíblia ou a dos Bois. Ainda nesta semana o presidente Bolsonaro poderá se lembrar que o discurso de campanha eleitoral nada vale para quem tiver na mão uma caneta para nomear, demitir e assinar decretos, leis e portarias. Também os ministros, jejunos em arte política, terão que aprender a linguagem própria para conversar com deputados e senadores. Quem não aprender a decifrar os códigos da política poderá embolar o jogo do governo no meio do campo. O discurso fácil da campanha eleitoral acabou. Agora, Bolsonaro e a equipe que o assessora terão que mostrar que sabem desatar nós, alguns cegos, outros górdios. O tempo de campanha eleitoral acabou. A realidade, a partir de amanhã, será nua e crua.

*Jornalista