Mariù Cerchi Borges*

Vai longe o tempo em que a humanidade reverenciava uma criança, que, segundo diziam, veio ao mundo como verdadeiro Filho de Deus. Essa crença encontra nos Livros Sagrados a verdadeira explicação do fato histórico: conta-nos que, no tempo de Herodes, nasceria em Belém de Judá uma criança que seria o Cristo Jesus, salvador da humanidade. Tal história teve o seu início quando César Augusto, através de um decreto, ordenava que fosse feito um recenseamento e que todos os habitantes da terra deveriam se alistar, cada qual na sua cidade de origem, para que se cumprisse tal determinação. Vindos de bem longe, Maria, prestes a dar a luz e seu esposo José, por falta de alojamento na pequena cidade de Belém, se acomodaram numa manjedoura, lugar onde nasceria, pobremente, o Filho de Deus. E assim, se cumpria a verdadeira história que, há mais de dois mil anos, encanta a humanidade. Durante vários séculos, celebrar o Natal consistia no culto a esse menino, verdadeiramente Filho de Deus. Conta-nos, o Livro Sagrado que, na Noite Santa do nascimento de Jesus, anjos vindos do céu entoavam cânticos de louvor à criança recém nascida e, como era comum na época, ali pelos arredores da cidade, pastores que cuidavam das suas ovelhas, guiados pelo esplendor da estrela, se ajoelharam frente tal criança para adorá-la. No ar, o frescor do nardo perfumava a madrugada que despontava, e, lá do Oriente, os três Reis Magos, guiados também pelo esplendor da estrela, encontraram a criança e, pondo-se de joelhos, adoravam o menino, ofertando-lhe exóticos presentes.
Mas com o passar do tempo, outros valores foram compondo, de forma bem diferente, o verdadeiro enredo da chegada do Filho de DEUS ao mundo. O cenário já era outro. Surge, magicamente, um envolvente e encantador velhinho de barbas brancas, trajes vermelhos, dirigindo velozmente um trenó, trazendo consigo um enorme saco cheio de presentes para as crianças. Surgia assim a figura do Papai Noel encantando, ainda mais, a magia dessa abençoada noite! O secular velhinho descia, apressadamente, montanha abaixo, abrindo caminhos, enfrentando a forte nevasca que cobria de branco árvores, montanhas, rios e estradas. Nada era obstáculo para o velhinho, que precisava, antes que o dia amanhecesse, descer pelas chaminés das casas para levar presentes, não mais ao Deus – Menino, como o fizeram os Magos, mas atendendo a um apelo do comércio cada vez mais ávido de lucros.
E assim, o simpático velhinho, aos poucos, foi ocupando o lugar de Jesus e, a partir de então, pouco ou quase nada se fala daquele, que naquela Noite Santa, nascia para trazer a paz e a salvação para a humanidade. Não é justo permitir que esse simpático velhinho, numa ilusória euforia, venha roubar dessa história, a sua verdadeira razão de ser.
Fica então, um apelo: devolvam Jesus para o seu verdadeiro papel no contexto da nossa salvação. Não podemos aceitar passivamente o descompromisso para com a verdadeira história da vinda de Jesus ao mundo. E mais, não podemos permitir que a idolatria de nossos dias sufoque a nossa capacidade de reflexão conduzindo-nos a viver na superficialidade de um vida vazia de Deus. Vivamos o Natal de 2018 com muita fé, alegria e esperança, desde que não nos esqueçamos de que Deus nos inseriu, de corpo e alma, no seu projeto de salvação: crer nessa realidade será o nosso eterno Tabor.

Professora universitária aposentada – Uberlândia – MG