Gustavo Hoffay*

Qual funcionário de uma grande empresa ainda não foi chamado de “colaborador”? Pessoalmente, nada contra. E você? E se a empresa decidisse chamar você e seus colegas de “parceiros”? Com o passar do tempo o que hoje conhecemos como CLT, passaria a chamar-se CLC ou CLP! Massa, né? Pesquisando a morfologia da palavra “colaborador”, veremos que ela trata-se da junção do prefixo “co” (ao lado de) e do termo “laborador” (trabalhador): empregado e patrão juntos em busca do mesmo objetivo! Então, teríamos a palavra co-laborador ou seja aquele que auxilia outro trabalhador e o patrão; mais ou menos por aí…certo? Então, se a empresa onde você trabalha o trata por “co-laborador”, não seria ilógico você entender que é parceiro do seu patrão, visto que ambos são trabalhadores na mesma empresa e você, portanto, seria nada menos que um sócio informal de quem paga pelos seus serviços. Estranho, mas etimologicamente seria isso: disfarçadamente ou maneiramente o seu patrão está apenas suavizando a sua condição de subordinação, de empregado, mas que no final das contas dá no mesmo, certo ou errado? Há um ou outro trabalhador que não gosta de chamado por “peão” mas o é e, da forma de “colaborador”, aquele termo é usado para que ele não entenda diretamente que a sua condição é aquela a que está sujeito, sim, às ordens do seu empregador e sujeito fundamental na composição do quadro de …..trabalhadores; para muitos jovens ,entretanto , soa melhor ser colaborador do que ser chamado de “empregado”, o que dá a entender ser subalterno, sujeito a ordens, a mandos e desmandos. Trabalhando numa empresa, prefiro ser visto como alguém que presta serviços para o benefício dos meus patrões e, em conseqüência óbvia, para mim mesmo: produzo para o bem deles e para a minha subsistência e da minha família. Daí a instituição da participação dos trabalhadores nos lucros: uma espécie de acionista sem direito a votos. Ora, então seria um prestador de serviços? Pensando bem…. chega! Basta de “nhem-nhem-nhem”. A modernidade, a evolução dos negócios e uma linguagem coloquial que deseja mexer com o nosso intelecto e daí provocar sentimentos que não nos pertence, leva a nada, nadinha! Trabalhei registrado por mais de trinta e sete anos e nunca, nunquinha fui tratado por “colaborador”, “peão” ou qualquer outro termo que não fosse “empregado”, “funcionário”, alguém que “funciona” para a empresa, para mim e para os meus dependentes. Como diria o meu saudoso amigo Frei Antonino, em tom jocoso: -“Esse mundo tá muito “diferençado”, esquisito, sim ! Pergunte a uma mocinha ou a um rapaz o que é “galocha” ou “anágua”, “supimpa”, “serelepe” ou “borocochô”, certamente achará graça e da mesma forma que nós, “sessentões”, estanhamos os termos “plugado”, “crush”, “shipar” ou “tiltado”. O vocabulário português e brasileiro parece estar “lascado”, “metido a besta” e o negócio agora é aceitar ou ficar “pistolado”. E antes que alguém comece a “trollar” essas minhas observações, “lacrei”, “fui”. Oh, “MDS” ( em inglês “OMG”), danou-se!

*O “Quadrado” – Uberlândia-MG