João Batista Domingues Filho*

Brasileiros sem paciência para esperar o “Brasil do futuro”. Governança Bolsonaro irá gastar suas forças, fundamentalmente, em medidas que dependam de seus próprios meios para execução. O medo aí embutido é da perda da popularidade da oligarquia familiar Bolsonaro, em curso. Agenda positiva de início de mandado: operações contra crime organizado e um lote de presidiários que a Praça dos Três Poderes fornecerá, sob a batuta do ministro da Justiça Moro, dado que a reforma da Previdência e outros projetos são incógnitas. Fernando Limongi (Valor, 26/11/2018:A8) define como “Presidencialismo de Delegação” a governança Bolsonaro, em substituição ao “Presidencialismo de coalizão”, padrão “toma-lá-dá-cá”. É a recusa de compra dos partidos por meio de distribuição de pastas ministeriais, modus operandi dos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Temer. Para Limongi “a crítica ao Presidencialismo de Coalizão não condena a coalizão ou partidos, mas a representatividade do Legislativo.” Bolsonaro ignora o poder Legislativo porque os resultados eleitorais são favoráveis a Ele. A esquerda não tem cadeiras suficientes pra paralisar seu governo. Limongi: “Bolsonaro constrói um governo balcanizado e compartimentalizado, cada um por si, sem coordenação.” É o “Presidencialismo de Delegação” para distribuir ministérios. “Tem tudo para dar errado” para esse cientista político.
Família Bolsonaro: nova oligarquia que saiu das urnas no Poder Executivo brasileiro, prometendo a realização do bem comum para a maioria dos cidadãos-contribuintes. O capitão eleito, ainda, é uma biruta de aeroporto: dependendo de onde vem os lobistas, facilmente muda de decisão e de projeto, sem partir do consenso para seguir um planejamento prévio. O interesse privado se sobrepôs ao bem comum: eis a fissura que se alargará com o tempo de sua administração, sem conhecimento prático e experiência concreta. Governança Bolsonaro com família, militares e bancadas não funcionará. Quando plutocracia conquista poder político por sua inteligência e empreendedorismo, paralisa o orçamento no financiamento de programas: educação, saúde, segurança e compromete investimentos de longo prazo no setor privado e em infraestrutura.
Oligarquia familiar Bolsonaro não tem plano de vôo: o rumo da nova “ordem e progresso”. Só o grupo dos militares é o mais bem arranjado, sem fissuras. O “dream team” para a área econômica não é o mesmo para as múltiplas crises que se perpetuarão, com ausência dos melhores quadros políticos e técnicos para negociar e produzir consensos na saúde, educação, desenvolvimento social e políticas urbanas, cujos projetos não são apresentados à nação com idéias e ideais, para se obter consensos. Sendo assim, o Supremo Tribunal Federal será cobrado por todas essas fissuras na República Federativa do Brasil, em função dos fracassos recorrentes das políticas públicas. O medo de continuidade “de tudo que estava aí no puder” e o comportamento de manada levaram à eleição do Jair Messias Bolsonaro. Talvez sua governança presidencial mantenha o Brasil numa economia em ciclos de queda autosustentados, dada soma de múltiplas crises explosivas: estagnação econômica, desemprego, infraestrutura sucateada e produtividade em queda constante, ganhando sobrevida. É enorme a deterioração do país, com falta de recursos, não só financeiros, mas de capital humano para a quarta revolução industrial que o mundo desenvolvido já vivencia há tempos.
A Presidência e os ministros são responsáveis pela negociação com o Congresso, para a construção de uma base sólida. Agrava tudo isso: a indefinição da comunicação, gerando desinformação. Não será uma tarefa fácil, com o aumento da fragmentação partidária. São 513 eleitos. 243 novos deputados. 87 são estreantes. Bancada evangélica (84), bancada da segurança pública (61) e bancada ruralista (260). Não representam o Congresso. Ainda tem as bancadas feminina, sindical, direitos humanos, educação, saúde, entres outras. Câmara: PT(56), PSL(52), PP(37), MDB(34), PSD(34), PR(33), PSB(32), PRB(30), PSDB(29), DEM(29), PDT(28), Solidariedade(13). Podemos(11), PTB(10), PSOL(10), PCdoB(9), Novo(8), PPS(8), PROS(8), PSC(8) e Avante(7) e outros. Para aprovação da reforma da Previdência: maioria qualificada de 3/5 dos 513 deputados. Se o Congresso for dominado por uma polarização tresloucada, a Presidência tem sua morte anunciada. Ou a materialização da profecia do vice-presidente do autogolpe executado pelas Forças Armadas.

*Cientista político – Uberlândia – MG