Antônio Pereira da Silva*

Realizadas as eleições de 1º de março de 1930, às quais concorreram o Presidente de São Paulo, dr. Júlio Prestes, e o Presidente do Rio Grande do Sul, dr. Getúlio Vargas, este, derrotado, não se conformou com os resultados nem com as circunstâncias. Rebelou-se provocando uma revolução a 3 de outubro, com o apoio dos Estados da Paraíba, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que o levou à vitória e à posse a 3 de novembro. Preparando-se para a luta, Minas Gerais instalou comandos revolucionários no Triângulo, em agosto. Um em Uberaba, para controlar as pontes do Delta e de Jaguara, e outro em Uberlândia, para controlar as pontes de Engenheiro Bethout e Afonso Pena. Para o Comando Geral no Triângulo, foi nomeado o Senador Estadual, de Ituiutaba, Camillo Chaves. Para o comando militar da zona norte do Triângulo foi nomeado o major da Polícia Militar José Persilva e Assistente o Capitão da Guarda Nacional Tito Teixeira. O Triângulo vivia uma situação delicada: era uma ponta de terra que se interpunha entre os aliados paulistas e goianos impedindo a união de suas forças. Ficamos entre dois fogos. As forças triangulinas foram concentradas próximo às pontes sobre os rios Grande e Paranaíba e aos portos nesses rios.
Mediante curiosa senha, o Triângulo ficou sabendo, a 3 de outubro, que a revolução começara. A senha passada por telefone dizia: “Dona Candinha manda lhe dizer que a tia do senhor, doente em Belo Horizonte, faleceu hoje, às cinco horas.” Imediatamente se tomaram providências. Praticamente tudo já se encontrava preparado. Recrutaram-se reservistas e abriram-se inscrições para voluntários (aqui, a lista ficava na Papelaria Pavan). A cidade viveu momentos de civismo intenso com a formação de batalhões de voluntários, batalhão feminino, corpo de enfermagem, jornal, intensificação de vigilância noturna e até se fabricou um canhão nas Oficinas Crosara. O Quartel General era no “museu” (Colégio Estadual).
No dia 17 de outubro seguiu para a ponte Afonso Pena o nosso primeiro destacamento chamado “Coluna Revolucionária de Uberlândia”, com 41 soldados usando calça cáqui, lenço, faixa de guerra e um laço auri verde no peito. Entre esses primeiros combatentes seguiu o terceiro sargento da reserva do Exército Nacional, Virmondes Ribeiro da Silva. Virmondes era um pacato cidadão, casado com dona Genuína Ribeiro e pai de dois filhos menores. Trabalhava na construção civil e tinha ajudado Alexandrino Garcia a erguer o muro da frente de sua residência, existente até hoje, à rua Quintino Bocaiuva, defronte ao extinto Hospital Santa Terezinha.
As escaramuças foram breves. Chegados à ponte Afonso Pena os soldados entraram num combate que durou apenas uma semana. No dia 24 de outubro, as forças do governo se renderam e os soldados mineiros entraram em Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara). Em todos os pontos de confronto, as forças respeitaram os bens públicos. Embora intensamente vigiadas nenhuma das pontes foi danificada. Só houve uma baixa pessoal do nosso lado. A do sargento Virmondes. Virmondes tinha servido no 6º BC sediado na cidade onde nascera, Ipameri, Goiás. Deu baixa como Terceiro Sargento da reserva. Tinha participado de escaramuças contra a Coluna Prestes onde se houvera com dedicação e denodo. Nas barrancas do Paranaíba, certo dia, Virmondes foi designado para participar da guarda de determinada trincheira sendo recomendado que ninguém se erguesse da mesma. As forças goianas davam periódicas rajadas de metralhadora que passavam pouco acima da trincheira. Necessitando de afastar-se, Virmondes ergueu-se no momento exato em que se disparou uma rajada. Foi colhido mortalmente. Com muita dificuldade seu corpo foi afastado da frente, pois as rajadas continuaram.
No dia 20 de outubro, às doze horas, deu-se o seu sepultamento, em Uberlândia. O caixão foi coberto com a Bandeira Nacional e conduzido até a igreja Matriz, a pé. Daí seguiu para o Cemitério Municipal em carro fúnebre de primeira classe, acompanhado pelo povo, pelos batalhões e pelas escolas. Os Comandantes estavam presentes.
Logo em seguida, o Comandante Camilo Chaves expediu Ato promovendo o Sargento Virmondes a Segundo Tenente. A pedido do Comandante Militar, Major José Persilva, o Prefeito Municipal homenageou o nosso herói com a denominação de uma via pública, hoje no centro da cidade. A rua que honrosamente recebeu a homenagem chamava-se antes, Atalaia. ((Fontes: Wilson Ribeiro, Tito Teixeira, Antônio Pereira da Silva, Hildebrando Pontes).

*Jornalista e escritor