José Carlos Nunes Barreto*

Quando terminei meu doutorado na maior na universidade de São Paulo, fui obrigado a dar 40 aulas por semana em um centro universitário particular. Economia foi uma delas. Resolvi estudar Samuelson, e essa foi uma das melhores coisas que já ocorreram comigo. Hoje, entendo alguma coisa de estruturas de mercado. As mais conhecidas: o monopólio-situação, em que só um fornecedor atende o mercado e nada precisa fazer para atender o range do cliente, que, aliás, desconhece. Também há o oligopólio – poucas empresas que disputam o mercado; se elas combinam preço, eis um cartel; no caso de haver um só comprador para centenas de fornecedores, está caracterizado um oligopsônio.
Em todas estruturas apontadas, sofre quem precisa desses serviços e produtos, porque, sem concorrência, todo produto/serviço, normalmente, é nota zero, porque não precisa melhorar. Lembro-me do monopólio da informática, obra da ditadura que quase nos jogou no limbo do atraso. Dos carros “tramban” da então Alemanha Oriental, horríveis e iguais; do colapso socioambiental e econômico do comunismo; e de outras “preciosidades” germinadas por essas perversas estruturas de mercado, como fraudar leite em cooperativas oligopsônicas.
Fui atendido, dias desses, em uma companhia de telefonia celular – um oligopólio, que gasta fortunas em propaganda, mas não se importa em deixar o cliente esperando duas horas, para depois dizer que não pode resolver o problema. Tudo porque quem devia atender a fila de clientes estava “desviado para outra função”. Você já enfrentou algo parecido? Já voou pelo país afora? Pois é, temos um duopólio. E elas mandavam na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ao ponto de impor rotas e fazer de Congonhas o aeroporto mais perigoso do mundo. Deu no que deu.
A propósito, voei mais de seis horas, semana passada, quando fui, representando o Ministério da Educação, reconhecer um curso, em Belém do Pará. Surpreendi-me com a sua excelência, mas não com a sempre predatória estrutura de mercado de ensino no país. Está em curso um ajuste que, sem dúvida, estabelecerá oligopólios privados no ensino superior. Infelizmente, a educação neste nível deixou de ser avaliada, como deveria, durante anos, e assusta vermos pessoas estudarem anos a fio e, ao final do curso, verem seus diplomas inúteis. Este absurdo é culpa do Estado, que deveria regular e auditar, uma tarefa impossível de ser delegada. Ocorreu no setor aéreo. Poderá ocorrer na educação um apagão, que nos trará tantos ou mais dissabores que aqueles de triste memória. Dá para aceitar que só 15% dos estudantes de direito sejam aprovados numa prova da ordem? Ou ouvir do Conselho Federal de Medicina (CFM) que, sim, os erros médicos estão aumentando em função da má-formação dos médicos brasileiros, ou que o Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (Confea) e os regionais correspondentes estão dispostos a fazer um exame, a fim de evitar chamar de engenheiros jovens que mal sabem fazer contas, enquanto o mercado estima um déficit de milhares desses profissionais, a ponto de o país precisar importar indianos e chineses? Precisamos de estadistas que pensem na próxima geração e não na próxima eleição. E cuidar da próxima geração significa planejar a segurança, a saúde e, principalmente, a educação, regulando o mercado e eliminando os predadores e aventureiros.
Alguém tem dúvida?

*Doutor, professor universitário