Ana Maria Coelho Carvalho*

Quando nasceu o primeiro rebento do meu filho mais velho, fui para Macáe, no Rio, acompanhar tudo e auxiliar no que pudesse.
Ao abrir a porta do quartinho do bebê, fiquei maravilhada. Tudo combinando, em branco e azul: cortina de nylon esvoaçante, pintura na parede com cenas da infância, berço com almofadas bordadas, cortinado pomposo e móbile musical que projetava estrelas no teto, guarda-roupa com coleção de sapatinhos e roupinhas perfumadas e cheirosas. Coisa de cinema, ao vivo e em cores.
Mas a emoção maior foi quando abri a malinha do bebê, que seria levada para o hospital. De plástico duro em tom verde água, com as roupinhas todas separadas em saquinhos de filó, amarradas com laço. Todas em ordem cronológica, onde estava escrito em letras prateadas: primeira roupa, segunda roupa, terceira roupa, roupa extra, roupa de saída do hospital. A primeira, toda azul, porque era um menino: manto, sapatinhos, luvas, touca e macacão. A última, toda vermelha, para dar sorte na vida (o Miguel sairia como um Papai Noel ou como um Chapeuzinho Vermelho). Como eu seria a acompanhante, fiquei receosa de misturar sapatinhos, calças, toucas e luvas, mas a norinha me tranqüilizou. Disse que se a primeira vestimenta e a última saíssem certinhas, as do meio não seriam tão importantes. Além das roupas, um caderno decorado, onde as pessoas deveriam escrever mensagens de boas-vindas para o Miguel e as lembrancinhas, um chaveiro com um bonequinho de pano. Chupetas, mamadeiras, pomadas. O auge aconteceu quando descobri, no bolso da malinha, dois CDs de música clássica, “Beethoven para bebês”, que deveriam ser tocados no quarto para o bebê ficar calminho. Achei deslumbrante essa malinha de chegada, principalmente porque todas as malas são de partida.
Depois da malinha, só faltava mesmo o Miguel. Ele nasceu no dia 11 de janeiro, com três quilos e meio, lindo, forte e saudável, chorando alto (um pouco amassado, como todo recém-nascido). Mãe, pai e avó emocionados e maravilhados. Começou toda a maratona de mamadas em peito dolorido, arrotos, cólicas, soluços, curativos no umbigo, noites mal-dormidas (a música do Beethoven foi deixada de lado, na vida real as coisas não são tão perfeitas assim, muitas vezes é simplesmente um “salve-se quem puder”). Para complementar, os eternos palpites: “parece com o tio”, “os olhos são da avó”, “a pele clara é da mãe”, “ o pé feio é do pai”. E o nenê no colo, que gostoso! Uma sensação de paz, aconchego, ternura. Parece que nada mais importa.
O nascimento de uma criança é sempre um momento mágico. Símbolo de esperança, de vida, de continuidade. Existem tristezas sim, como crianças e velhos abandonados, mulheres espancadas, jovens drogados, pessoas assassinadas. Mas existem crianças nascendo, engatinhando e aprendendo a andar. O Pequeno Príncipe, quando chegou ao planeta Terra, ficou assustado com a pequenez dos homens e perguntou: “e as crianças, elas ainda existem?”. Existem sim, lindas como o Miguel, que saiu do hospital todo de vermelhinho, pronto para viver a vida, no que der e vier.

*Bióloga – anacoelhocarvalho@terra.com.br