Ivan Santos*

O juiz Sérgio Moro, que por livre decisão afastou-se da magistratura para exercer um cargo político demissível “ad nutom” (termo jurídico em latim que determina que o ato de nomeação pode ser revogado pela vontade unilateral de quem nomeou ou foi nomeado) terá pela frente muitas pedras no meio do caminho para transpor. Antes de assumir, Moro deixou claro que aceitou o convite para comandar o Ministério da Justiça e continuar a luta contra a corrupção, principalmente no serviço público e no processo político. Para isto o futuro ministro da Justiça e o Presidente da República vão precisar de apoio no Congresso para aprovar as medidas anticorrupção, algumas das quais propostas pelo Ministério Público. O ambiente na Câmara está complexo. O jornal “O Estado de São Paulo” estampa hoje em manchete que “1/3 do Congresso eleito responde a processos na Justiça”. São 160 deputados e 38 senadores acusados de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, assédio sexual e estelionatos diversos, corrupção administrativa com danos ao patrimônio público e enriquecimento ilícito. Meteram a mão em dinheiro público. Moro precisa mudar a linguagem jurídica que sempre usou soberanamente para adotar uma linguagem política para lidar com parlamentares acusados de corrupção. Precisa de habilidade para não dificultar a aprovação de projetos indispensáveis à governabilidade. Muitos no Brasil estão curiosos para saber como o inflexível juiz Moro vai agir para punir exemplarmente parlamentares malfeitores sem prejudicar a aprovação de projetos do governo. Esta não será uma ação fácil para nenhum agente político. O presidente foi eleito por um partido pequeno, e precisa construir uma Base de Apoio Parlamentar entre 30 partidos com representantes na Câmara. O Governo vai precisar de, pelo menos, 308 votos na Câmara para aprovar uma Emenda Parlamentar. Caso contrário o Governo de Bolsonaro começará debaixo de uma baita crise política. O ministro da Justiça Sérgio Moro vai ter que aprender a negociar com parlamentares acusados de terem praticado atos de corrupção. Jogo difícil, com cetteza.

*Jornalista