Ivan Santos*

O economista Roberto Campos, nascido em Mato Grosso, foi um político austero, culto e polêmico. Quando foi ministro da Economia do presidente Castelo Branco, fez a primeira grande reforma tributária no Brasil. Depois da ditadura militar, Campos alistou-se no PPR e elegeu-se deputado federal. Na Câmara foi liderado pelo deputado Odelmo Leão, das Minas Gerais, que tinha base eleitoral em Uberlândia. Morreu em 9 de outubro de 2001. No governo do presidente Juscelino Kubitschek, Roberto Campos foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. Naquele tempo o Banco não tinha o S de Social. Economista emérito percebeu que o ministro da Fazenda, José Maria Alkmin, entendia patavina de economia e foi falar com ele no Ministério. Disse-lhe: “Ministro, precisamos fazer uma rápida reforma para impedir a crescimento da inflação”. Astuto, Alkmin respondeu: “Muito bem, Dr. Campos, precisamos mesmo. E qual é a sua proposta”? Robertão, paciente, respondeu didaticamente: “É um plano simples e clássico que qualquer dona de casa conhece”. Entusiasmado, Alkmin emendou: “Dr. Roberto, sei que o senhor entende muito de economia, mas eu entendo de política mais do que o senhor e, por ordem o presidente da República, conduzo este Ministério com viés político. Não o faço como economista”. Paciente e pragmático, o economista Roberto Campos insistiu: “Seu Ministério cuida também de economia e precisa cortar despesas”. Alkmin, com paciência de mineiro, explicou: “Aqui neste Ministério eu tenho meu plano que não confere com o de quem pensa como economista”. Em seguida abriu uma gaveta e tirou uma pilha de papéis que eram autorizações de pagamentos para empresas, entidades e liberações de verbas para prefeitos e fornecedores diversos que esperavam por dinheiro. Em seguida o político Alkmin mostrou a papelada ao economista Roberto que estava preocupado com a inflação e explicou: “Dr. Roberto, este é o meu plano de economia: Nestes papéis, todos os pagamentos estão autorizados e tudo isto é verba de despesas aprovadas, mas eu nada pago. Prometo pagar, mas não pago. Aqui dinheiro é só sai na promessa”. Menos preocupado com o crescimento da inflação, o economista Roberto Campos entendeu Zé Alkmin que lhe disse: “Dr. Roberto, governo não corta despesa nem verba. Governo corta pagamento que é outra coisa”. Depois de explicar esta lógica política para controlar a inflação, o matreiro José Maria deu ao economista Robertão, uma lição de matreirice política mineira.

*Jornalista