Antônio Pereira da Silva*

Concluídas as obras básicas para o fornecimento de energia elétrica à cidade, a firma Carneiro & Irmãos, iniciou a instalação dos postes para a iluminação pública. O primeiro foi erguido, com muita festa, no dia 31 de outubro de 1909, nas proximidades da velha cadeia. Tudo ficou pronto para a inauguração, no Natal. José Theóphilo Carneiro estivera em Uberaba, em 1905, quando o medico José de Oliveira Ferreira inaugurou a iluminação pública de lá. Só que, lá, quando foi acionada a chave geral, não aconteceu nada. Um gaiato, na véspera, fez um treino de tiro mirando nos isoladores – e arrebentou os fios.
Logo no começo de dezembro, o coronel Carneiro comunicou às autoridades e à imprensa que inauguraria a energia elétrica no dia 25 e que os festejos começariam no dia 24. O jornal “O Progresso”, porta-voz “cocão”, publicou vários artigos elogiando a obra do coronel, não obstante ser órgão de oposição aos “coió”. Chegou a afirmar que “meia dúzia de homens como o Tenente Coronel Carneiro e não haveria dificuldades que se não vencessem” – o que era surpreendente na pena adversária.
A Câmara Municipal, com maioria “cocão”, nomeou os vereadores Custódio da Costa Pereira, Bento Brazil, Olívio Silva, José Avelino e Constâncio Gomes, para organizarem a festa. Queria uma festa bonita, a cidade limpa e embelezada para impressionar os visitantes. Que o povo desentulhasse as ruas recolhendo tijolos, pedras, madeiras, andaimes. Pedia enfeites com ramos, bananeiras, folhas, bandeirolas e galhardetes na frente das casas e nas ruas, e que se acendessem lanternas nos dias 24 e 25. Depois da inauguração, haveria baile para os convidados, representantes de municípios e imprensa.
No dia 23, mais de quinhentas pessoas, entre elas a Comissão da Câmara, a Banda de Música União Operária, famílias e senhoritas atulhavam a estação da Mogiana aguardando a chegada das bandas convidadas: a Santa Cecília de Uberaba e a Grêmio Esportivo de Franca. As três desceram pelo trilheiro arenoso que era a avenida Afonso Pena executando dobrados até o hotel onde os convidados ficariam. No dia 24, a cidade amanheceu engalanada, coberta de flores. A alvorada teve três salvas de vinte e um bombões e mais foguetes. Às 19 horas, na praça da Matriz (Cícero Macedo), foi ligada a chave e a cidade se iluminou pela primeira vez. Foram queimadas duas baterias de 21 tiros e muitas dúzias de foguetes ao acender das luzes. E tome dobrado com as três bandas. Na praça da Independência (Cel. Carneiro), houve grande aglomeração popular. Os discursos eram interrompidos com vivas e salvas de palmas. A seguir, houve espetáculo de gala no Cine Theatro São Pedro com a exibição de várias fitas. No dia 25, no comecinho da tarde, as três bandas saíram à rua e, acompanhadas do povo, foram ate às residências das autoridades e à sede do jornal “O Progresso”. Tocou-se muita música entremeada por discursos entusiasmados. Além do jornal “O Progresso”, de Uberabinha, outras cidades também deram cobertura ao acontecimento: de Uberaba vieram representantes do “Lavoura e Comércio”, da “Gazeta”, do “Tempo” e do “Correio Católico”. Representaram-se também o “Cidade do Prata” e o “Cidade de Araguary”. No dia 26, as três bandas apresentaram-se na praça da Independência num verdadeiro torneio musical – e ninguém ficou sabendo qual a melhor, tão boas eram. No dia 27, as bandas visitantes foram-se e as festas se acabaram, mas a cidade começou a viver as experiências da modernidade.

(Fontes: Jornal “O Progresso” e Pedro Salazar Pessoa Filho)

OBSERVAÇÃO: No jornal “Acervo Cultural”, de Uberaba, de fevereiro de 1992, é descrita a inauguração da energia elétrica em Uberaba. Lá dá o dia 31 de dezembro de 1905, como data da inauguração. Não faz referência à pretensão de inaugurá-la no dia 25 nem à quebra dos fios.
Diz também que a usina foi construída na cachoeira dos Monjolos, no rio Uberaba.

*Jornalista e escritor