Gustavo Hoffay*

Pessoas encarregadas pela administração dos serviços de manutenção e segurança dos nossos parques, praças e jardins, bem que poderiam ativar (com mais constância e interesse) o seu senso de decência e responsabilidade públicas quando se tem em vista a ocupação indiscriminada da praça Tubal Vilela por vendedores ambulantes que, aos poucos e sempre mais, vêm tomando posse das calçadas e esquinas daquele valioso e centenário patrimônio do povo desta cidade e o que, não for contido e limitado, continuará afastando a esperança de tornarmos a usufruir de um espaço, antes, originalmente destinado ao trânsito de pedestres, momentos festivos, de lazer e descanso para a comunidade local. Deixo claro que não sou, absolutamente, contra a aquela prática e mesmo porque o comércio ambulante está profundamente ligado à constituição do trabalho no Brasil e à permanência sistemática de trabalhadores à margem do mercado formal de trabalho mas… há exageros e controvérsias diversos àquele respeito, afinal o bem comum deve prevalecer ou não sobre quem não adequa-se a critérios estabelecidos pela Lei Orgânica Municipal? Em caso negativo, além de assistirmos a derrocada de leis (meramente formais?) sem nenhuma aplicação prática, sugiro que desde já preparemo-nos para conviver em uma cidade que patina de maneira sensível em seu progresso e à medida que aumentam os níveis de ocupação indevida dos seus espaços públicos, em benefício exclusivo de algumas dezenas de pessoas. Louco seria quem não reconhecesse a trágica estabilidade de salários abaixo do limite mínimo para uma sobrevivência digna, o desemprego galopante e uma insegura situação econômica em setores da cadeia produtiva mas, convenhamos, nossas autoridades municipais deveriam ao menos revelar-se preocupadas com o contingente de desempregados e subocupados que lotam logradouros públicos enquanto ávidos e necessitados de auferirem alguma renda que garanta-lhes uma vida menos indigna, dentro dos limites de um orçamento onerado pelos seus gastos com alimentação, saúde, transporte e moradia. Fica a cada dia mais evidenciada a necessidade de uma solução justa e de maneira, também, a não influenciar negativamente o comercio formal, regularizado e cioso de suas obrigações legais. E não há como negar que a origem de tal desordem está diretamente relacionada a uma onda de migração de brasileiros e originados de diversas regiões que diariamente desembarcam nesta cidade, enquanto na ilusão de estarem chegando a um eldorado de plenas realizações pessoais e profissionais sem, no entanto, perceberem a necessidade de situar-se em uma realidade que garanta-lhes suportar o ônus de viver ( ou sobreviver) em uma das maiores metrópoles deste país e que, indubitavelmente, irá cobrar-lhes empenho, coragem e produtividade diários. Agora, assistimos pela TV a uma propaganda oficial de Uberlândia, exaltando aos quatro ventos as qualidades deste município e de sua gente e de modo a incentivar o aumento do número de pessoas que desejam sair de suas cidades e virem tentar a vida aqui e certamente para que seja suprida a necessidade de mão de obra em novas e grandes empresas que, brevemente, deverão dar início `as suas atividades ou mesmo de outras que já estão instaladas e com destaque para aquelas do setor de construção civil. Aliás, atitude bastante louvável das nossas autoridades mas que, por outro lado, deixa-nos indignado diante do que pode tornar-se um tsunami de migrantes sem qualificações profissionais adequadas e que, em pouco tempo, poderão somar-se a outros que já ocupam indevidamente a periferia de Uberlândia, para empreenderem um comercio clandestino de produtos diversos , como é o caso daquele que já encontra-se em atividade no camelódromo da praça Tubal Vilela e adjacências. Ora, ciclos migratórios de pessoas em direção a grandes centros urbanos é algo bastante comum, milenar até, mas convenhamos que devem tratar-se de movimentos disciplinados pela razão e antes que tornem-se motivos de futuras correções, para evitar-se prejuízos na infra-estrutura de segurança, saúde e educação, além de formação e treinamento de mão-de-obra especializada. Julgo, sim, de suma importância a consideração de muitos a respeito desses aspectos e para que, principalmente, o nosso município não torne-se um local onde oportunidades gerem situações que futuramente aviltem a dignidade humana, principalmente daqueles que possam estar iludidos com um eldorado que não existe. Acredito que Uberlândia já tenha chegado a um ponto em que, primeiro, suas autoridades devam preocupar-se em resolver os atuais problemas pertinentes à área social e antes que esses sejam potencializados com a vinda de milhares de outras pessoas que, por qualquer razão, principalmente a econômica, visam suprir a sua necessidade básica de sobrevivência.

*Agente Social – Uberlândia(MG)