Antônio Pereira da Silva*

Na história de Uberlândia existe uma figura especial – é o tenente coronel da Guarda Nacional José Theóphilo Carneiro. Era do partido coió, mancomunado com a situação nacional (Partido Republicano) que punha quem queria no governo dos Estados e da União. Na base da fraude protegida pela Polícia e pela Justiça. Só que, aqui em Uberlândia, quem mandava era a oposição, os cocão.
O coronel Carneiro, no entanto, não tomava conhecimento do domínio adversário e circulava pela cidade como se fosse o “coronel” do lugar. O chefão. Pode-se dizer que ele foi o culpado, ou pelo menos o principal culpado da guerrinha que houve em 1910 entre a Polícia e os jagunços do coronel Severiano Rodrigues da Cunha. Este também culpado porque não tinha nada que trazer seus “marimbondos” para a cidade e abriga-los em sua chácara. Mas o Carneiro dissera que, desta vez, ganharia as eleições nem que fosse a bala.
Foram três dias de tiroteio, as famílias aterrorizadas, refugiando-se nas fazendas próximas ou fugindo pra Uberaba e Araguari.
O Carneiro era um homem dinâmico e temerário. Afrontava os adversários, mentia, se fosse preciso, e dava ordens aqui e ali. Embora não fosse autoridade, ele impôs aos construtores que substituíssem os caixões portugueses pelas platibandas. Distribuiu sementes. Divulgou o feijão preto Uberabinha. Montou banda de música e cinema.
Fez muita coisa pela cidade. Muitos desses feitos estão cercados por uma névoa misteriosa e ninguém sabe exatamente até onde vai a verdade. Isso não quer dizer que ele tenha sido um produto da boataria. Pelo contrário, amou e trabalhou muito por sua Uberabinha que costumava chamar de sua “noivinha”. Certas coisas ficam no lusco-fusco. Por exemplo, ninguém nega que ele tenha lutado para que a Mogiana passasse por aqui. Mas até que ponto as circunstâncias que envolvem esse trabalho são verdadeiras? Inclusive a circunstância fundamental: a de a Mogiana não pretendia passar por Uberabinha.
Com relação à ponte Afonso Pena, as coisas ficam mais brumosas. Porque existem alguns documentos. A tradição oral diz que foi ele quem conseguiu a ponte. Tudo bem, mas as notícias da época relatam que os Rodrigues da Cunha (cocão – portanto, adversários do coronel) visitaram as obras, estiveram presentes à inauguração e o agente executivo João Severiano Rodrigues da Cunha foi um dos padrinhos da ponte no momento de sua bênção. O Carneiro não apareceu por lá.
Com relação à energia elétrica não há acréscimos nem circunstâncias duvidosas. É obra sua mesmo. Obra tão importante para o desenvolvimento do lugar quanto a própria ponte Afonso Pena, a estrada do Fernando Vilela e a estrada de ferro. São quatro pilares fundamentais.
OBS: Athayde Ribeiro da Silva, uberlandense da Martinésia, psicólogo, ator de teatro e de rádio, que viveu em época de confronto entre “cocão” e “coió” me disse que os uberlandenses não colocavam essas palavras no plural. Fossem quantos fossem, eram sempre “cocão” ou “coió”.

*Jornalista e escritor