Gustavo Hoffay*

Permitam-me rápidas pinceladas a respeito de tal assunto. Particularmente dou “boas vindas” a todas as críticas a mim dirigidas e tenho, sim, a humildade necessária para discernir a respeito e tirar de cada uma delas o melhor proveito possível ! E não imagino-me “senhor das letras” ou o dono da razão; aqui, neste minifúndio de letras e frases, sinto-me como se estivesse exposto em uma vitrina ao alcance dos olhares e críticas de dezenas ou até centenas de leitores e, sinceramente, vejo-me conscienciosamente responsável por cada vírgula, acento e ponto aqui registrados. Da mesma forma, sinto-me um crítico exponencial de muito daquilo que leio e algumas vezes não permito-me represar algum desejo de apontar equívocos ou opiniões que julgo inexatos em alguma matéria do meu interesse; entretanto, o faço com todo o respeito que tenho por qualquer escritor ou escrivinhador. Acautelo-me, pois poderei ter os defeitos de qualquer pessoa mas nunca ser conivente com eles; pelo contrário, combato-os! Nunca fui de fazer coro ou aplaudir quem pretende criticar ou criticar algo que alguém faça, fale ou escreva e, felizmente, sempre tenho comigo uma racionalidade que permite-me abaixar a cabeça e, humildemente, reconhecer minhas próprias falhas. Aliás, penso que todos nós, seres humanos, devemos estar sempre preparados para passar pelo crivo de qualquer análise discordante daquilo que &nb sp;produzimos. É muito comum, por exemplo, assistirmos a quem nunca jogou uma partida de futebol ou sequer já tenha ido a algum estádio, criticar jogadores e técnicos de futebol pelo mal desempenho do seu clube em alguma partida que assistiu pela TV! Em Belo Horizonte, onde nasci e vivi toda a minha mocidade, conheci Evandro, “o poeta das ruas” e quem, nas madrugadas boemias da praça Raul Soares e adjacências, vendia os seus poemas a frequentadores de bares e restaurantes ali instalados. Muito inteligente, declamava versos improvisados e apropriados para casais que admiravam e/ou compravam aqueles seus produtos, ao ponto de em pouco tempo ter conquistado a simpatia de muitos dos assíduos frequentadores daqueles locais. Evandro, em suas abordagens a pessoas a sós, a casais ou a grupos de amigos, sempre procurava saber a opinião corrente a respeito dos s eus poemas. Algumas críticas ele as aceitava como verdadeiras, úteis. Lembro-me como se fosse hoje- e lá se vão quarenta anos ou um pouco mais: Evandro, o poeta, deixou sobre a mesa de um bar onde encontrava-me com quatro amigos, um dos seus poemas já impresso e de maneira, até, a ser prontamente posto à vista na sala ou no quarto de qualquer residência. Disse-nos que ia ao banheiro enquanto líamos aquela sua pequena obra …., mas não foi! Escondeu-se por trás de uma coluna e passou a ouvir os nossos comentários a respeito daquele seu poema. Marcão, um dos amigos presentes à mesa, não gostou de determinada frase ali impressa e até cismou haver um erro de gramática na mesma; um acento indevido em determinada palavra. Então, gozador que era, Marcão come&ccedil ;ou a alardear a todos naquela mesa e para outros que estavam próximos, o erro gramatical do amigo Evandro. Esse, surgindo de onde estava, humildemente reconheceu o próprio erro e se comprometeu a corrigi-lo a partir das novas impressões que viesse a fazer daquele seu poema. Mas o Marcão, impiedosa e sarcasticamente, ainda passou a apontar erros em um outro texto, um outro lindo poema apresentado por aquele artista a todos ali presentes . O poeta, então, ainda muito humildemente, retrucou: -“Pera lá. Que você entenda de gramatica, tudo bem! Mas não venha criticar algo que não entende. Isso é ridículo, meu amigo”! Em suma, os erro s apontados pelo amigo Marcão em algumas outras palavras não existiam. Ele simplesmente estava se metendo em um assunto do qual não tinha muito conhecimento e não dando a importância devida ao lindo sentido do texto. Deixou de “saborear” um pensamento ali impresso e transformado em arte, para meter-se a ir além da sua acanhada sabedoria e assim , indevidamente, criticar o bem feito. Da mesma forma que se deu com o amigo Evandro, também, se dá com quem tem a coragem necessária de expor em público as suas opiniões a respeito de determinado assunto. Mas ter sabedoria, humildade e aceitação para aceitar críticas racionais, infelizmente é algo para poucos. O importante é comunicar-se, ter coragem de expor ideias e ser respeitosamente autêntico.

*Agente Social – Uberlândia-MG