Marília Alves Cunha*

Sou uma cidadã brasileira das antigas, daquelas que consideram o dia da eleição uma festa patriótica, um acontecimento digno de respeito, um marco importante a determinar os rumos do país. O dia da eleição me põe prá fora da cama mais cedo, a ansiedade sempre presente em ocasiões de tal importância. Do alto de meus setenta e tantos anos (mulher que se preza não expõe todos os detalhes da idade) nunca deixei de votar e continuo, eleição após eleição, com o mesmo discurso: votar é o ato democrático por excelência, votar é insistir e não desistir, votar é a única possibilidade de expurgar da vida pública os maus políticos…
Em eleições passadas, com alguma antecipação eu já conhecia os nomes escolhidos para sufragar nas urnas. Não havia muita dúvida a me atazanar a cachola na escolha dos candidatos. O ano de 2018, no entanto, está me pegando de jeito… Nunca tive tantas dúvidas, nunca a incerteza golpeou-me com tanta força e nunca votar me pareceu tão difícil e ao mesmo tempo, tão necessário e urgente. O dilema é de fácil compreensão: sei muito bem qual o Brasil que eu quero, para mim e para as futuras gerações. A maioria dos brasileiros também tem se posicionado com bastante propriedade sobre o Brasil desejado. Basta então, num raciocínio bem simplista, votar na direção das nossas expectativas, buscando candidatos que possam atendê-las.
Não é tão fácil assim! Como sempre iremos assistir, infelizmente, o império do lema: “Campanha é campanha –Governo é governo”. O estelionato eleitoral, antes mesmo do início propriamente dito da campanha começa a tomar conta da cena e os candidatos estão, mais do que nunca, abusando nas promessas. E isto é apenas começo da cantilena. O horário eleitoral poderá se transformar num caldeirão do diabo, com parafernália de inverdades, promessas que não poderão ser cumpridas e ringue de contenda entre (supostos) inimigos esfaimados, querendo comer uns aos outros. E nem quero nem pensar no amontoado das tais “Fake News” superlotando as redes sociais.
A operação Lavajato tem descortinado, com suas descobertas explosivas, o mundo do crime organizado, os porões do poder, com seus subterfúgios, mentiras, fraudes e violência contra os cidadãos que lutam para sobreviver honradamente. A população brasileira, como nunca antes, tomou conhecimento mais real do que já acontecia há muito tempo, embrenhando-se nesta narrativa escandalosa de ligações espúrias entre governo, políticos dos mais diferentes partidos, empresas, funcionários públicos, etc. Perdemos a inocência! Gastamos nosso potencial de acreditar, ter fé e respeitar os homens que fazem política em nosso país. Votar está me parecendo um exercício de “falso X verdadeiro”, difícil de decifrar, cheio de pegadinhas e com grandes probabilidades de erro.
A gente fica sempre em estado de alerta. Li declarações de candidatos, defensores fervorosos da Lavajato, dizendo agora que é preciso “muito cuidado para não incorrermos em abuso de autoridade que pode prejudicar a democracia”. Mudam de partido, mudam de ideias, ao sabor de seus novos interesses. Outro, com extrema arrogância, fala em tirar e por na caixinha, como se a operação dependesse apenas da vontade do presidente, como se o povo brasileiro não merecesse esse desmonte da organização criminosa. Os partidos políticos cometem aberrações, aceitando em seus quadros de palhaços analfabetos a investigados pela polícia. Estou sempre em alerta, antevendo o nascer de entendimentos que livrem políticos das garras da lei. Parece brincadeira, por exemplo, esta discussão do PT sobre a candidatura de Lula. Em países sérios, com democracias consolidadas, o assunto estaria encerrado. No Brasil, uma esdrúxula pantomima acontece com Lula preso, o poste e uma mulher que abdica de sua candidatura para ser colocada no banco de reserva. Putz! E as feministas nem gritaram!!! Esta história de querer mudar as regras do jogo para atender políticos ou partidos deveria ser coisa de outros tempos. Época de coronelismo revivida não dá para aguentar…
E as coligações? Renan ama Dilma, que ama Roseana e Lobão, que ama Alckimin e também Lula, todos amam todos e qualquer um que possam lhes trazer votos e minutinhos preciosos no horário eleitoral..Putz! Já nem sei quem é quem! PMDB e PT se abraçam em quase todos os estados, chutando o GOLPE para o espaço… Partidos até então rivais e aparentemente contrários em ideologia e programas se atraem como moscas no mel, para conseguir capturar eleitores e tempo…
Pois é, caro eleitor! Diante da barafunda toda vai ser difícil escolher os melhores. A verdade é dura e cruel: estamos quase num beco sem saída e o país vai demorar a se reerguer, depois de tantos anos de gestão ineficiente e predatória. Não haverá facilidade para colocar este gigante no rumo certo, a caminhada será árdua. E não podemos ser enganados com palavras bonitas, promessas inviáveis, historinhas mentirosas, marketing colorido e enganador. Os candidatos têm que deixar claro, sem pozinho mágico, os seus programas, seus planos de governo e medidas viáveis e que podem ser duras, para viabilizar o Brasil. E quando escolher o presidente, preste muita atenção no vice. A nossa experiência nos conta que, muitas vezes, eles subiram a rampa do planalto para receber a faixa presidencial.
Continuo observando e procurando os melhores candidatos, questionando suas atitudes, conhecendo mais de seus planos de governo. No dia 7 de outubro quero estar consciente da minha escolha e feliz como uma criança que, sorrindo, corre para o parque de diversões. Acho que meus cabelos brancos (ainda que pintados) vão ajudar na escolha…

*Educadora – Uberlândia – MG