Antônio Pereira da Silva*”

As primeiras estradas construídas na região, partiam de São Pedro de Uberabinha, passavam por Monte Alegre, Abadia do Bom Sucesso (Tupaciguara) e chegavam até Vila Platina (Ituiutaba) e Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara).
Foram os primeiros caminhos para automóveis buscando a integração do Oeste. O início da “Marcha para o Oeste”.
A construção foi feita pela Companhia Mineira Auto Viação Intermunicipal cujo Diretor Presidente era Fernando Alexandre Vilela de Andrade e Diretor Técnico Ignácio Pinheiro Paes Leme.
Os dois já tinham trabalhado juntos quando Vilela foi Agente Executivo em Vila Platina. Vilela e Paes Leme construíram naquela cidade o Serviço de Captação e Distribuição de Água Potável que foi o primeiro serviço oficial do Triângulo. Foram chamados de loucos. Sem dinheiro, sem material na cidade e enfrentando longo período de seca, Vilela fez empréstimos, comprou fiado o material que necessitava dos atacadistas de Uberabinha e tocou o serviço à revelia de todos que não acreditavam naquela novidade. E a seca só aumentando, dando a impressão à população de que o Agente não estava ligando muito para o caso. Quando ela chegou a um ponto cruciante, havendo no fundo dos poços artesianos apenas barro em vias de secar-se também, como num milagre, a água jorrou pelas torneiras das residências.
Ao fim de seu governo, já tinha planejado mudar-se para Uberabinha e construir estradas de automóveis ligando-a a Vila Platina, Monte Alegre, Santa Rita e Tupaciguara. Terminando sua gestão, vendeu quase tudo que tinha, associou-se a Paes Leme e veio.
A construção da estrada iniciou-se em 1912 e neste ano mesmo foi inaugurado o primeiro trecho.
Por essas estradas passaram motoristas, como o destemido Nego Amâncio, que foram buscar, lá nos confins de Mato Grosso e Goiás, clientes para os atacados da cidade que se transformaram nos maiores do país.
Depois de Itumbiara, outros empresários, sentindo que era necessário empurrar os caminhos para frente, criaram outras Companhias. Ronan Rodrigues Borges, Tito Teixeira e Pedro Salazar Pessoa Filho foram daqueles obstinados estradeiros que enfiaram as pontas da estrada de Fernando Vilela para dentro de Goiás e Mato Grosso.
A Companhia Auto Viação Intermunicipal tanto explorava o transporte de pessoas em jardineiras, quanto o de cargas em pequenos caminhões mais os pedágios que cobrava de terceiros usuários. A empresa teve um período de esplendor quando até casa bancária montou, depois entrou em decadência. Os caminhoneiros, entretanto, desenvolveram, cresceram e criaram uma comunidade que se projetou no ideário popular como de heróis, homens sérios, solidários e amantes do progresso.
Naquele tempo, esposa e filha de roceiro, fosse fazendeiro ou peão, não apareciam na sala quando havia visitas, mas todos confiavam-nas, sozinhas, quando havia necessidade, à boleia dos caminhoneiros, homens respeitadores. Quando alguém precisava de dinheiro, encomendava aos capitalistas das cidades polo e quem levava eram os caminhoneiros. Nego Amâncio contava que levava sacos cheios de notas e moedas no meio da carga.
Aviamento de receitas, compra de óculos, tudo era feito por encomenda a eles. Às vezes, um doente esperava pelos remédios pedidos por mais de trinta dias. Podia ter a sorte de passar algum “cometa” (caixeiro viajante) pela região, ou sair, antes, outro caminhão ou carro de bois para os seus lados e levar-lhe os medicamentos.
As estradas, todas elas, eram ruins e, além disso, às suas margens, não se encontravam postos, nem vendas, nem borracheiros, nem bares, nem mecânicos. Os motoristas levavam combustível em latas, correntes, ferramentas, pneus, chicões, cordas e eram apelidados de “bichos de camada” porque andavam um atrás do outro para se socorrem, caso fosse necessário. Dada a grande solidariedade reinante entre eles, chamavam-se mutuamente de “Irmãos da Estrada”.
Os mata burros eram muito perigosos, as pontes piores. Havia pontes feitas apenas com dois paus. As várzeas eram cheias de poças d’água e areões. Nas vertentes havia muito barro e atoleiros. Nos tempos de chuva todos já sabiam onde encalhariam. Às vezes só juntas de bois conseguiam desatolar os caminhões.
As viagens eram de dez, vinte, trinta dias, ida e volta, quando tudo ia bem.
Esses heróis, como dizia o saudoso Nego Amâncio, “morreu todo mundo pobre…” (Fonte: Hélio Benício de Paiva, Nego Amâncio, José Ruguê).

*Jornalista e escritor