Rafael Moia Filho*

A tortura de uma consciência
culpada é o inferno do ser vivo. (John Calvin).

A vocação do presidente Michel Temer para escolher pessoas desqualificadas para cargos em seu Ministério é impressionante. Ele convoca apenas os mais enlameados com a sujeira da corrupção. Uma lama que não tem tratamento nem saneamento e corre a céu aberto em todo território nacional.
No final de 2017 e começo de 2018 o país assistiu incrédulo a tentativa de Roberto Jefferson – PTB, de emplacar sua filhinha, a deputada Cristiane Brasil como ministra do trabalho. A pressão popular e da justiça impediu que ela fosse empossada. Porém, o partido indicou novo integrante ao cargo.
Eis que em plena Copa do Mundo, acontece uma nova fase de uma operação da Polícia Federal que elevou para oito o número de ministros de Michel Temer investigados por supostos delitos. Nesta quinta-feira, Helton Yomura (PTB), o desconhecido ministro do Trabalho, e Carlos Marun (MDB), responsável pela Secretaria de Governo, viram seus nomes serem citados em uma investigação policial onde são suspeitos de concessão irregular de registros sindicais.
O primeiro foi afastado do cargo por uma decisão judicial de Edson Fachin, ministro do Supremo Tribunal Federal. O segundo foi apontado pela polícia como um dos beneficiários do esquema delituoso, mas o mesmo Fachin seguiu a recomendação da Procuradoria Geral da República e não acatou o pedido de busca e apreensão em seu gabinete. As investigações contra ambos continuam. Tanto Yomura quanto Marun negaram qualquer participação nos delitos.
Em uma Esplanada dos Ministérios com 29 ministros, a situação dos homens de confiança do presidente Temer já foi pior. Ele já chegou a ter mais de dez ministros com inquéritos abertos no Judiciário. O próprio Temer é alvo de ao menos dois inquéritos e de três denúncias criminais. Agora, em um período pré-eleitoral, a maioria dos políticos que ocupava cargos no primeiro escalão deixou a função para poder disputar as eleições.
Os que ficaram, ou são desconhecidos do meio partidário, como Yomura, ou desistiram de concorrer a qualquer cargo neste ano, que é o caso de Marun. Assim, com o afastamento de Yomura, até figuras desconhecidas ou pouco relevantes politicamente começam a aparecer nos escândalos de Brasília. No início da noite, o Planalto afirmou que Yomura pediu exoneração do cargo e o pedido foi aceito pelo presidente. A oficialização da demissão deve ser publicada no diário oficial desta sexta-feira. De acordo com os jornais O Globo e O Estado de S.Paulo, Eliseu Padilha foi escolhido por Temer para assumir interinamente o órgão, acumulando o cargo com a Casa Civil. Padilha é um dos oito nomes do Governo investigados por suspeita de corrupção.
A terceira fase da operação batizada de Registro Espúrio também investiga o deputado federal Nelson Marquezelli (PTB-SP). Resultou ainda na prisão de três pessoas: o chefe de gabinete do ministério do Trabalho, Júlio de Souza Bernardes, o superintendente do ministério no Rio de Janeiro, Adriano José Lima Bernardo, e Jonas Antunes Lima, assessor de Marquezelli. Ao todo, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão. A suspeita é que o grupo cobrava propinas e pedia apoio em troca da concessão de registros sindicais.
Em sua defesa, Carlos Marun vociferou aos berros que é alvo de uma campanha difamatória. “O Judiciário analisou [o pedido de mandado de busca e apreensão contra mim] e diante do absurdo que se pretendia, não deu guarida a essa sanha vingativa dos que apresentaram esse pedido”. O ministro disse que vai apresentar uma queixa-crime contra os policiais que vazaram a informação de que ele era investigado. Caracterizou o vazamento como “direcionado, seletivo, pusilânime, canalha e vagabundo” que tinha como único objetivo o constranger.
Os fatos comprovados das denúncias anteriores contra Geddel, Henrique Alves e tantos outros membros deste governo imundo e completamente desmoralizado indicam que Marun terá que se esforçar muito para provar que é inocente e que seu chefe “não sabia de nada”…

*Administrador de Empresas e Jornalista