Antônio Pereira da Silva*

Essa foi brava!
Era Agente Executivo o José Lélis de França, mais conhecido como Zeca Major. O Presidente da Câmara Municipal era João Moreira Ribeiro.
Últimos dias de 1895. Preparavam-se os festejos para a inauguração da estação da Mogiana.
O ex-Agente Executivo, Augusto César Ferreira e Souza, e o Juiz de Direito, dr. Duarte Pimentel de Ulhoa, por algum motivo, tinham caído no desagrado dos coronéis Manoel Alves dos Santos e Severiano Rodrigues da Cunha. Manoel era neto do entrante pioneiro João Pereira da Rocha.
Os Pereira, bastante enfronhados na política por essa época, eram correligionários dos desagradados.
A pequenina cidade entrou em polvorosa. Os Pereira mais os Vereadores Severiano e Manoel queriam porque queriam que aquelas autoridades fossem banidas. Os Pereira faziam a pitoresca exigência de que o Juiz saísse da cidade montado numa égua.
São Pedro do Uberabinha teria o que de habitantes na sede? Uns três mil? Nem isso. As ruazinhas enoveladas do Fundinho transformaram-se em praça de guerra. Várias residências abrigavam policiais e amigos que tentavam proteger as autoridades e fazer o lugar voltar à legalidade.
Já os rebeldes colocaram verdadeiras fortalezas nos extremos da cidade: Manoel Alves dos Santos aquartelou-se lá no alto da Lagoinha com a jagunçada fortemente armada, aguardando o que desse e viesse, e Severiano Rodrigues da Cunha, cá em baixo, com seu magote de marimbondos (jagunços), ali na sua chácara, onde, depois, foi o Asilo das Velhas.
Padre Pio Dantas Barbosa, político prudente, previdente, ordeiro, amante dos seus paroquianos, montava no “Zoeira”, um alazão mansinho que sabia de cor as paradas do padre nas suas andanças pela paróquia, mas que instigado virava um foguete, e corria daqui prali tentando apaziguar os ânimos.
Muita gente de posse, mandou a família pra longe, esperando o pior dos desfechos. Arlindo Teixeira enviou sua gente para Uberaba e procurou o Juiz. Convenceu-o a afastar-se e levou-o até a estação da Irara. Há quem diga que o dr. Duarte foi até Ouro Preto (Belo Horizonte, que se chamava Cidade de Minas, ainda estava em construção), onde o Presidente do Estado, Crispim Jacques Bias Fortes, deu-lhe mão forte devolvendo-o à Comarca protegido por forte contingente policial. Outros dizem que foi só até Uberaba onde entrou em contato com o Batalhão de Polícia que o escoltou de volta.
De Ouro Preto, ou de Uberaba, o contingente saltou do trem na estação e desceu em forma pela trilha arenosa que seria a futura avenida Afonso Pena, sob o comando do tenente José Francisco da Silva, marchando ao toque de corneta, e desfilou pela cidade impondo a regularidade pelo medo.
Augusto César produziu grave acusação que registrou nos anais da Câmara, no dia 18 de outubro de 1895, única prova dos acontecimentos. Com a cidade recolhida, só compareceram à Câmara, além dele, o português José Loureiro Bexiga, João Batista Vieira da Motta, Joaquim Pinto Alves e Domiciano José de Castro. Não havia quorum. Augusto César assumiu a direção, já que o Presidente não estava, dizendo que a cidade estava tomada por graves acontecimentos, desde o começo do mês, que espalhavam o terror e a desolação. Fez o registro de uma Moção gravíssima. Entre outras coisas, anotou que os revoltosos queriam a deposição de autoridades judiciárias e policiais, que violentavam e desonravam donzelas e famílias e que saqueavam estabelecimentos comerciais. Nomeou, na Moção, os Vereadores responsáveis pela baderna: o coronel Manoel Alves dos Santos, o capitão Francisco Luiz da Costa e Jacintho Antônio Filho.
Serenados os ânimos foram abertos diversos inquéritos que, afinal, se puniram alguém, certamente não foram os acusados por Augusto César.
(Fontes: Atas da Câmara, Waltercides Silva)

*Jornalista e escritor