Gustavo Hoffay*

Em 1.981, ano que entrei para a Faculdade de Direito de Itaúna (MG), já era comum ouvir-se que em nosso país havia mais pardais que advogados. Recém casado e pai de uma filha com pouco menos de dois anos de idade , diariamente eu seguia de Pará de Minas rumo àquela instituição de ensino na vizinha cidade e enquanto animado pela expectativa de formar-me em um curso superior e obter, segundo a minha mãe saudosa mãezinha, um “dr” em frente ao meu nome. Anos ainda dourados, digo de passagem, embora um pouco embotados em termos de novas perspectivas políticas a partir do governo do então presidente João Batista de Oliveira Figueiredo e que tinha como aliado, no governo mineiro, o piauiense Francelino Pereira dos Santos. E “porque estudar Direito?” , indagava-me. Além de abrir-me as portas para futuras promoções na empresa de economia mista onde eu trabalhava, eu ainda poderia, se quisesse, desfrutar de uma entre tantas oportunidades profissionais no futuro e por meio de concursos públicos ou vagas de emprego em empresas privadas ou vir a ter o meu próprio escritório de advocacia e abrir uma boa margem de estabilidade financeira a partir de trabalhos gratificantes e motivadores junto a empresas ou cidadãos diversos. Deixo claro que refiro-me a promissoras atividades em evidência nas duas últimas décadas do século passado e quando, de maneira menos estressante, um bom advogado tinha maiores motivos para sorrir quando da visualização de oportunidades de trabalho e sem tanta concorrência quanto atualmente. Hoje, ao contrário, é claramente perceptível aos olhos do mais despretensioso e modesto cidadão brasileiro, o quanto é volumosa a quantidade de bacharéis que atuam em áreas diversas e absolutamente estranhas ao curso no qual investiram milhares de horas de estudo em cinco anos de faculdade: de gerentes de supermercado a donos de fast food, por exemplo. E o motivo, quase sempre, é a falta de oportunidades de trabalhar em alguma empresa ou por conta própria, embora ultimamente as áreas de Direito Ambiental e de Tecnologia da Informação estejam em alta para aqueles profissionais. Ciente dessa inflação de graduados em Direito no nosso país, a Ordem dos Advogados do Brasil, no Paraná, tomou algumas recentes medidas junto ao Conselho Federal da Ordem para que essa interceda junto ao Ministério da Educação, no sentido de suspender a abertura de novos cursos de Direito em nosso país e por um período não inferior a dez anos, visando também um planejamento sobre o ensino do Direito em chão tupiniquim. O referido pedido de moratória baseia-se, ainda, na baixa qualidade do ensino ministrado em nosso país e muito aquém das expectativas. Segundo a OAB-PR, há um “sucateamento dos cursos ( de Direito), com autorizações do governo sendo concedidas sem rigoroso critério de análise, o que facilita a lucratividade sobre os alunos e não se almeja a qualidade”. De certa forma eu até concordo com aquela Ordem, embora eu acredite que dada a oportunidade de ensino caiba aos estudantes daquele curso uma dedicação e especialização constantes e de maneira a valorizarem ainda mais aquela ciência, rica e linda em todos os sentidos. Considero qualquer concorrência como a algo muito salutar e o que termina por oportunizar maiores ganhos e melhor qualidade de vida a quem melhor estiver preparado para entrar em um mercado cada vez mais exigente e competitivo. Como em qualquer outra atividade, também no Direito há que ousar, inovar e prospectar, sempre e cada vez mais.

*Agente social – Uberlândia-MG