J. Carlos de Assis

Ave, Temer, os que vão morrer te saúdam!
Essa era a saudação dos gladiadores ao imperador romano. Aplica-se literalmente ao projeto de Temer de colocar sob o comando das Forças Armadas a segurança no Rio e, progressivamente, em outros Estados da Federação. Muitos morrerão. Alguns inocentes. Outros apenas suspeitos. Vários bandidos precoces. Para quem está perto da zona de tiro e não tem como escapar não resta muita coisa a fazer senão saudar o governo Temer e cair morto.
Confesso que não sou contra a intervenção em si. A degradação do sistema de segurança no Rio, numa situação de alta criminalidade, exigia alguma providência, mesmo que fosse de um Temer, e estimulada pela rede Globo. Acontece que não há esperança de solução para o problema de segurança no Rio como fato isolado. É fundamental atacar o entorno social. E não é pela linha demagógica de César Maia com seu programa perfunctório conhecido como Favela Bairro, limitado às periferias das comunidades. O Estado tem a responsabilidade de atacar com recursos suficientes o coração do problema das favelas.
Há uma ponta de esperança: o Alto Comando do Exército sabe dessas limitações. De fato, o general Braga vocalizou a exigência de recursos públicos para reequipamento da polícia e garantia do salário de policiais. É um começo. Acontece que isso contraria frontalmente a política fiscal de Meirelles, centrada no congelamento dos gastos orçamentários primários segundo a emenda constitucional 95. Aliás, Meirelles já havia adiantado que não haveria recursos novos federais para a segurança do Rio. Haveria apenas remanejamentos dentro do orçamento do próprio Estado. Mas como, se o Estado está quebrado?
Veremos um conflito interessante. De um lado um general quatro estrelas responsável, nacionalista, discreto, razoavelmente informado sobre políticas públicas. De outro um tecnocrata insolente, colonizado pelos Estados Unidos, totalmente ignorante de políticas públicas, e viciado em especulação financeira. Façam suas apostas: quem vai ganhar? Por enquanto, tomando por base a desnacionalização do controle da Embraer, nossa principal ex-empresa de alta tecnologia, é possível que o Alto Comando do Exército se renda a Meirelles sob a desculpa de que tem que obedecer à hierarquia formal do governo. O problema é que, no ritmo de desnacionalização e do estrangulamento dos interesses do país em que estamos indo, não haverá no Brasil outro Alto Comando do Exército senão o que comanda soldadinhos de chumbo.

*Professor de Economia e jornalista. Autor dos livros: A Chave do Tesouro: Anatomia dos escândalos financeiros: Brasil, 1974-1983; Os Mandarins da República: Anatomia dos escândalos na administração pública, 1968-1984; A Dupla Face da Corrupção e Os sete mandamentos do jornalismo investigativo.