Willian Stutz*

Reconto aqui uma história que ouvi há muitos, muitos anos atrás. Por mais que tenha buscado a autoria da mesma, nem rastro batido ou petrificado encontrei. Peço pois perdão por não citar fontes, as desconheço, perdidas no tempo, uma pena. Se alguém se lembrar ou de algo souber me conte, detesto injustiças.

Poucas décadas atrás, poucas em relação ao tempo no cosmos, uma civilização muito adiantada tecnologicamente visitou nosso planeta.
Era uma missão observatória, científica e de busca.

Em reunião como os maiores líderes mundiais da época, fizeram a eles uma proposta:
Dariam para a humanidade um instrumento que revolucionaria a história do povo da terra. As distâncias seriam encurtadas de maneira jamais imaginada, alimentos e bens poderiam ser deslocados em tempo curtíssimo de um ponto para outro, aposentando assim as carruagens e carroças. Viajar-se-ia para destinos antes impensáveis e velozmente.

As mensagens seriam entregues quase que de imediato e os cavalos dos correios da época poderiam pastar com merecida tranqüilidade, enfim os benefícios seriam inúmeros. A civilização terráquea daria um salto quantitativo e qualitativo de milênios.

Em troca os alienígenas só pediram uma coisa: levariam por ano algo perto de 1 milhão de almas para o seu planeta para servirem de cobaias em estudos científicos. Seriam dissecados, abertos, dilacerados, receberiam drogas e próteses experimentais, enxertos de toda natureza e, por fim sacrificados a bem da ciência.

Uma onda de indignação tomou conta da assembléia, o povo foi para as ruas em protesto exigindo a expulsão dos extraterrestres de nosso planeta, os religiosos os excomungaram. Febre e ódio.

Desapontados com a reação humana, as luminosas naves em harmonioso balé celeste se foram para nunca mais serem vistas.

Conta-se porém que antes da partida um grupo seleto e influente de burocratas sem escrúpulos, curiosos sobre a oferta e querendo saber mais sobre tão maravilhoso presente, como e quanto poderiam lucrar com ele, se reuniram às escondidas com os visitantes do espaço. Longe dos olhares da imprensa e da opinião pública selaram o trágico acordo: 1 milhão de terráqueos de todas as idades, nacionalidades, etnias e de ambos os sexos, fossem eles crianças, adolescentes ou adultos, seriam levados todos os anos para o distante planeta. Assim se fez.

O tal maravilhoso e revolucionário presente continua até os dias de hoje a circular quase que desapercebido entre nós cobrando seu preço em vidas: são os automóveis, às vezes reverenciados como semideuses, objetos de desejo e cobiça.

Penso sempre nessa historinha após os feriados prolongados e nos períodos de férias.
Segundo a Organização Mundial de Saúde 1,2 milhão de pessoas morrem atualmente em todo o mundo em decorrência de acidente de trânsito. O número de feridos está entre 20 e 50 milhões.
Haverá pois algum fundo de verdade no relatado? Algum dia saberemos?

*Veterinário e Escritor