Rafael Moia Filho*

“Jornalismo é publicar o que alguém
não quer que seja publicado:
todo o restante é publicidade” (George Orwell).

Ao longo dos últimos anos, sempre que nos aproximamos das eleições, surgem boatos de fraudes nas urnas eletrônicas. O objetivo às vezes é tentar justificar a derrota de um partido ou até a vitória de outro que não é do agrado ideológico de quem espalha a notícia.
Infelizmente, o nível dos candidatos é tão baixo que muitos chegam a fazer campanha com o número errado (acredite, isso acontece muito), ou simplesmente seus eleitores, os poucos que imagina ter, dizem que votou nele, mas a bem da verdade, não quiseram ou não souberam votar no referido candidato.
A urna eletrônica não é implantada em muitos países por questões puramente financeiras, visto que sua implantação é cara dependendo do tamanho do país. No quesito “segurança”, não há como negar a eficiência do equipamento e de todo o sistema criado para empregá-la.
Para citar apenas um único sistema de segurança que impediria de acontecer o que é narrado nos posts nas redes sociais, destaco a “votação paralela”, que consiste no seguinte:
Essa coisa de dizer que há fraude na urna eletrônica é mais ou menos como dizer que viu um OVNI, ou que Elvis não morreu, ou que foram os próprios Estados Unidos que mandaram derrubar as torres gêmeas. São apenas teorias da conspiração que encontram eco naquilo que algumas pessoas da sociedade querem ouvir, não nos fatos.
É óbvio que a votação paralela não é o único sistema de segurança, nem sequer é o mais importante. Há dezenas de outras formas de segurança que funcionam conjuntamente.
No dia da eleição duas urnas de cada Estado são sorteadas por uma comissão composta por servidores da Justiça Eleitoral, membros da magistratura, membros do MP, membros da OAB e dos Partidos Políticos. Essas urnas são retiradas das seções eleitorais onde seriam utilizadas e levadas de helicóptero para a sede de cada um dos 27 Tribunais Regionais Eleitorais. Lá, os membros da comissão votam aleatoriamente em quem desejarem e seus votos são filmados. Depois, o resultado da votação é conferido com o resultado da urna. Até hoje jamais ocorreu uma única divergência entre as filmagens e o resultado da urna.
Um caso famoso que foi publicado pela Revista Veja é o da candidata à vereadora em Guajará-Mirim, interior de Rondônia. Edilamar Quintão Pimentel (PTN-RO) descobriu, na última hora, que fez toda a sua campanha com o número errado. A postulante digitou seu número de campanha na urna e verificou que não estava registrado. O número correto da candidata era 19.789, porém os santinhos – com erro de impressão – informavam o número 19.159.
Segundo o 1º Cartório Eleitoral, uma audiência pública foi realizada logo após o deferimento das candidaturas de Guajará-Mirim para resolver possíveis erros e alterações, mas a candidata não compareceu para verificar seu número. Edilamar, que fez toda a sua campanha com um número errado, não conseguirá receber nem o próprio voto.
Assim como a incauta Edilamar, muitos são os candidatos colocados sem critérios técnicos pelos partidos e que mal sabem ler e escrever. Culpar a urna pelo fracasso eleitoral é mais simples do que admitir fraquezas, péssimas indicações ou até campanhas realizadas apenas para justificar o contingente necessário de candidato por chapa.
Em SP há 23 anos o PSDB vence as eleições para Governador. Eleições que foram realizadas sempre no mesmo dia e horário das demais (Presidente, Senadores, Deputados Federais e Estaduais), sem que ninguém jamais questionasse a vitória daquele partido. Estranhamente quando se fala de fraudes, essas são imaginadas pelos membros das redes sociais justamente no pleito para Presidente. Será que as urnas são fraudadas apenas para um resultado, deixando que os demais fiquem acima de quaisquer suspeitas?
O sistema nunca foi implantado nos EUA ou em outras Nações por que seu custo é muito alto, desde a implantação até sua manutenção. No caso particular dos americanos, suas cédulas de votação contêm muitas informações, muitos candidatos a delegados e ainda cada Estado promove plebiscitos diferentes.
Temos um sistema que é melhor e mais seguro, mas por motivos desconhecidos, ignoramos e achamos que o voto em papel é melhor nos outros países. Pobre país que copia o que não presta e não valoriza o que é inteligente.

*Administrador de empresas e jornalista