Willian H. Stutz*

Vivemos um momento de overdose de “politicamente correto” (PC). Já brinquei seriamente sobre isso em outro escrito e olha que faz muito tempo. Por incrível que pareça o PC evolui em velocidade cósmica, não havendo um dia sequer em que não apareça uma nova imposição e torcer de narizes para aqueles que não seguem as regras doutrinárias de alguns que se acham vanguarda, mas na realidade são uns chatos caretas. Cabelo comprido ou roupas diferentes não fazem ninguém ser “cabeça”. No primeiro caso temos um exemplo singular bem perto de nós.

Os falsos doutos em comportamento às vezes me lembram mais Black blocs sem causa definida do que mestres capazes de modificar léxico. Olha só, modificar para uso em suas tribos e guetos tudo bem, mas impor é outra coisa.

Não que eu seja adepto fervoroso da gramática normativa, basta levar em conta que na maioria de minhas crônicas, prosas ou poemas uso e abuso da linguagem coloquial. Vejo-me peão, prostituta, dono de venda, matuto, andarilho louco varrido, anjo, santo ou rapadura. Perco-me em minhas frases longas sem ponto, nem vírgula. Busco a sonoridade dos viventes bicho ou gente, ar, mar, vento. Tudo isso para desespero de revisores. Aqueles que bem me conhecem já se acostumaram e tiram de letra as letras que faltam e falas que contam. Contudo, a imposição moralista de uma vanguarda pouco ousada me aflige/agride. Não me imponham nada, pois farei o contrário.

Aqui a história é deliciosamente outra. Uma amiga me deu um puxão de orelha por algum dito. Brincou, acredito eu, com frase usada e reforçou o que tinha tomado conhecimento por meio de grande amigo, médico e pródigo escritor cuiabano. Sinto que os mato-grossenses, assim como nós mineiros e paraibanos, já nasceram com este “defeito” no juntar letras. Não digo que seja bom ou ruim o resultado, pois é como jogar futebol. Uns nascem com o dom, outros, como este que vos fala, vêm ao mundo por acaso. Nunca acertei um chute e só fiz gol batendo bola sozinho.
Não é o caso de meu querido amigo, que, repito, domina a escrita como poucos. Foi ele que me contou pela primeira vez a história do “X” como igualador de gênero (não tem igualador no dicionário, me dou ao direito). Assim, Senhor e Senhora são substituídos por Senhorex. Nesta toada temos também artitex, veterinarex e meninex, que substitui numa boa menino e menina.

Em reunião ou comício muitos canditatex dirão: Companheirex! Aos brados ou em reunião solene: Senhorex, autoridadex, meu povex, bom dia… e segue o discurso. Em bom português, lá se foi o boi com a corda.

Lógico, claro e límpido que o simples uso de um X não vai reduzir o famigerado preconceito, as fobias, o ódio pelas opções individuais. O respeito à diversidade de gênero é base de tudo. Basta de caretice, de hipocrisia. Para os ou ox que ainda se sentem perturbados com tantas e boas mudanças, sugiro leitura de “Livres & Iguais”, da Organização das Nações Unidas (ONU). A desinformação é uma das principais fontes do preconceito.

O mundo mudou e, repito, não são sinais ou letras que vão ajudar a acabar com a essência da intolerância, da cegueira moral. Tenho fé que tanto ódio se desvaneça de uma vez por todas. Pois se ainda tivermos que usar de subterfúgios estaremos contribuindo cada vez mais para o distanciamento e segregação. Assim, deixemos o x para as palavras que o utilizam, tais como Xerox, Jontex, Fax, Climax, Fênix, Ônix, Tórax, Durex …
Dura lex, sed lex

*Médico Veterinário e escritor