Shyrley Pimenta*

“É preciso distinguir entre o que é importante e o que é necessário”. (Nicolas Schor)

Nossa sociedade costuma gratificar quem está ocupado o tempo todo. Quanto mais apertada estiver a agenda melhor. A ordem é correr, correr e correr. Essa cultura de fazer o máximo no menor tempo possível teve início no século passado e atinge seus níveis mais altos nos dias de hoje.
Essa correria desenfreada, para se chegar não se sabe bem aonde, está sendo questionada por movimentos diversos em lugares como Europa, Estados Unidos e Japão. São organizações que decidiram colocar um basta à aceleração, diminuir o ritmo, dar de ombros à urgência cotidiana. A mudança proposta por tais organizações é motivada, principalmente, pela incidência de doenças decorrentes desse estilo de vida, aliada ao alto grau de insatisfação e estresse diante de tanta correria.
A nova proposta, portanto, é desacelerar, botar o pé no freio, tecer loas à calma e à tranquilidade. Os efeitos benéficos não se fazem esperar. E são inúmeros: dá para almoçar com o marido e os filhos, saboreando o gosto do alimento; sobra tempo para uma caminhada na praça, para ler livros que esperam há tempo na estante, fazer cursos, pensar na vida, fazer amor sem pressa (que a pressa é inimiga da perfeição).
Robert Holford, um psicanalista que defende a prática da meditação, afirma que uma mente tranquila nos dá um gosto de liberdade. É como se estivéssemos sentados ao mesmo tempo no rio e à margem dele – envolvidos com a vida, mas também tendo dela uma visão geral, uma consciência maior. Além disso, nosso cérebro, desacelerado, trabalha mais e melhor.
Algumas doenças estão associadas à pressa: hipertensão, problemas cardiovasculares, problemas emocionais, entre os quais a ansiedade e a angústia. Diminuir o ritmo é, portanto, fator de saúde. Mas entre nós predomina o modelo do culto à velocidade, por isso, quem decide mudar o estilo de vida encontra resistência. Trabalhar com calma, respeitando o ritmo próprio, esbarra, por exemplo, na questão da tal produtividade – as empresas e instituições, notadamente as públicas, cobram números, quantitativo, quanto maior o número de procedimentos realizados, melhor. Precisam de estatísticas elevadas como o carro-chefe de seus palanques eleitorais. E haja pressa e estresse.
Mas, está provado. Acerta mais, quem faz com calma. O acelerado, o que anda sempre na velocidade máxima, corre mais riscos de adoecer e não retira das situações experimentadas todo o prazer e toda a riqueza possíveis.
Agora, se me dão licença, eu também vou driblar a pressa. Vou abrir espaços em branco na minha agenda e sair por aí, simplesmente… zanzando. Até mais ver!

Psicóloga clínica – Uberlândia