Ivan Santos

Um cidadão que se identificou pela Internet como Contreiras, após ler um texto que escrevemos sob o título: “Aumenta o consumo de drogas”, comentou assim: “Somos donos do nosso corpo. A soberania do indivíduo sobre o próprio organismo lhe dá o direito de nele introduzir quaisquer substâncias (inclusive drogas). Se o Estado limitar esta liberdade, ele estará se apossando indevidamente do corpo das pessoas e violando a mais sacrossanta propriedade privada que é o corpo humano e a liberdade individual de cada cidadão”. Respeitamos o livre pensar, mas nem tudo o que eu quero ou desejo é eticamente aceitável. Conhecemos opiniões de vários juristas que classificam vício como crime. No vício, o homem prejudica a si mesmo, prejudica a própria família e a sociedade onde vive. Segundo alguns estudiosos da problemática social, uma pessoa não é verdadeiramente livre se não tiver liberdade de acertar ou errar. No entanto, todo ser humano racional deve ter entendimento para distinguir o que é certo do que é errado. Logo, cada homem ou mulher precisa ter liberdade e vontade para mudar de hábito e recompor-se com o meio onde vive. Onde a venda de drogas for livre, compra-as quem quiser para drogar-se ou para outros fins. Se uma sociedade convive com a venda livre de drogas como bebidas alcoólicas e fumo, por que não aceitar a livre comercialização de cocaína, crack ou maconha? Qual é a diferença para a saúde humana entre o consumo de drogas reconhecidas socialmente como “lícitas” e as “ilícitas”? O tráfico de drogas hoje sobrevive ao lado da corrupção. A repressão às drogas cria gangs, gera conflitos armados e alimenta a criminalidade organizada que, audaciosamente opera outras ações criminosas organizadas. Então, diante desta dura realidade, é tempo adequado à racionalidade e parar um instante para refletir, concluir e decidir se é melhor liberar as drogas ou conviver com a inútil repressão ou com a escandalosa corrupção que o tráfico alimenta. A repressão estatal inibe os produtores de drogas e faz com que os preços destas no mercado clandestino disparem. Alguém conhecedor do tráfico internacional já disse que enquanto no mundo houver consumidores de drogas, haverá quem as produza e quem as distribua, queiram ou não os governos nacionais. Esta conclusão é clara como a luz do dia iluminado por um sol brilhante. É também uma evidência que nos remete a profundas reflexões sobre o aumento do potencial de lucro proporcionado pela distribuição de drogas onde houver repressão. Esta realidade proporcionada pela repressão às drogas atrai pessoas com tendências criminosas dispostas a tudo para ampliar o lucro no mercado. A sociedade, impotente, passa a ser fustigada por gangs que geram conflitos armados entre concorrentes. Assim a criminalidade se alastra por toda a sociedade assustada. Continuar a combater o tráfico e o consumo de drogas com repressão policial é ingenuidade ou má fé. A polícia precisa trabalhar intensamente no combate a outros crimes e não perder tempo em controlar e reprimir o consumo e o tráfico de drogas. Conclusão: enquanto houver consumo de drogas haverá produção e tráfico, queiram ou não os governos nacionais. Pensem nisto sem preconceitos.

*Jornalista