Antônio Pereira da Silva*

Aristides Bernardes de Rezende faleceu com mais de cem anos de idade não faz muito tempo. Foi pessoa ligada ao nosso desenvolvimento comercial. Nasceu na velha Paracatu, no dia 13 de novembro de 1894. Chegou a Uberabinha em 1910 para trabalhar com o tio, Antônio Rezende Costa, que era um dos atacadistas mais importantes, estabelecido no Largo do Comércio (dr. Duarte). Começou nos serviços de limpeza e chegou a “interessado” – que participava dos lucros da empresa. Com uns “cobres” ajuntados, em 1922, resolveu ser boiadeiro, profissão de que não gostou e voltou para o comércio aceitando a sociedade que lhe ofereceu o português Antônio Maria Pereira de Rezende, fundador da tradicional casa “Rezende & Cia”. Em 1939, desgostoso com a tragédia de sua vida (que será assunto de outra crônica), Antônio Maria mudou-se para o Rio e Aristides assumiu a empresa cedendo sociedade ao genro e ao filho. Foi nessa época que mudou de nome. Chamava-se Aristides Bernardes de Assis, mas, para manter o nome da tradicional casa, trocou o Assis por Rezende.
Foi um dos fundadores da Associação Comercial, Industrial e Agro Pecuária de Uberlândia, em 1933. Foi eleito Tesoureiro da primeira Diretoria e Presidente da terceira. Participou também da fundação do Uberlândia Clube, em 1938. Em 1965 aposentou-se e saiu da firma que mudou seu nome para “Lares”.
Naqueles tempos de Antônio Rezende Costa, os atacadistas faziam as entregas em carros de bois do próprio comprador. O sistema de pagamento era o de contas correntes. O fornecedor anotava as vendas e recebia depois da safra. Aristides, como “interessado”, viajava pelo Triângulo Mineiro e Sudoeste Goiano vendendo e recebendo. Eram poucas as cidades: Monte Alegre, Prata, Ituiutaba, Tupaciguara, Santa Vitória, Itumbiara, Buriti Alegre, Morrinhos, Pouso Alto, Rio Verde, Jataí, Mineiros. Eram viagens longas, feitas a cavalo, respeitando uma jornada diária que variava de seis a dez léguas. Os animais não agüentavam mais. Eram duas pessoas e quatro cavalos – um animal levava as malas com as trocas de roupas e utensílios. As jornadas terminavam em fazendas com pousadas que os próprios fazendeiros construíam. Eram pousadas cômodas. Entre uma jornada e outra fazia-se um rodízio de animais. Nessas longas e demoradas caminhadas atravessavam rios e córregos a vau. Certa feita, Aristides, novato na atividade, e seu companheiro aproximavam-se de Buriti Alegre debaixo de forte chuvarada. Os cavalos patinhando, a água escorrendo dos chapéus e batendo nas capas. Pouco antes de Buriti havia o córrego Santa Maria. Estava bufando de cheio. O peão passou. Aristides foi entrando e, de repente, faltou pé ao cavalo que se espantou e começou a rodar. Sendo-lhe experiência nova, Aristides agarrou-se fortemente às rédeas para não cair, o que dificultou a movimentação do animal que se desesperava cada vez mais. E iam rodando, rodando, o cavalo sufocado com a cabeça muito erguida travada pelas rédeas. Vendo o “cometa” em apuros, o camarada que conhecia bem os macetes daquela situação, começou a gritar:
– Sorta as rédea, sorta as rédea, sô Aristide!
Um tanto inseguro, Aristides atendeu. O animal aquietou-se, continuou a descer, porém dominando bem a corredeira e vencendo-a por fim. Foram sair muito embaixo, mas sem perigo algum. E seguiram viagem sem mais problemas.
OBS: O sr. Aristides Bernardes faleceu no dia 28 de julho de 1997.

(Fonte: Aristides Bernardes de Rezende)

*Jornalista e escritor