Gustavo Hoffay*

Infelizmente uma das poucas posições de destaque ocupada pelo nosso país, em todo o mundo, refere-se à grande incidência de pessoas dependentes de substâncias tóxicas alteradoras do humor. As estatísticas são alarmantes e, segundo especialistas, a quantidade de usuários regulares e compulsivos é algo muito próximo a 10% da população de qualquer município brasileiro, o que torna-se ainda mais grave se considerarmos que cada dependente causa, em média, a co-dependência em cinco pessoas de seus círculos social e familiar e também necessitadas de atenção psicossocial. Parece que a população mais suscetível aos efeitos prolongados e deletérios das drogas é dominada por uma mentalidade distorcida dos padrões de normalidade. Digo isso enquanto baseado na ideia de que não poucos jovens vivem em meio a comunidades essencialmente egoístas e onde o chamar à atenção parece ser o objetivo primordial do indivíduo. Soma-se a isso o isolamento de rapazes e moças e o que favorece a procura por alienantes alternativas que, em geral, não exige-lhes esforços e oferece-lhes prazeres imediatos, porém terríveis dores futuras e numa sociedade cada vez mais conformada, onde pessoas se omitem, fingem não enxergar uma dura realidade e não posicionam-se ao lado do bem. Enxergamos parte considerável da juventude ludibriada em uma falsa liberdade, segundo a qual cada um sente-se dono de si, imaginando-se fazer o que quiser. Paralelamente não poucas pessoas têm sido solicitadas para falar, aqui e acolá, sobre a sombria situação das drogas em meio à juventude. São palestras que, se não representam real benefício à prevenção daquele inexorável flagelo, ao menos servem de alerta e proporcionam bons dividendos políticos e promocionais a muitos que as promovem. Pessoalmente, quando convidado a falar para plateias sobre prevenção às drogas, prefiro divulgar a necessidade da prática de bons costumes e de uma necessária e efetiva participação dos pais na criação dos seus filhos. Ora! Pouco vale tão somente informar; vale muito mais formar. Números e estatísticas que não visam o ser-humano na sua integralidade, são um irracional saco vazio. Portanto querer prevenir o uso de drogas simplesmente com múltiplos meandros e nuanças de apresentação é, no mínimo, incoerente e inconsequente se não houver, também, espaço para sinceros depoimentos de quem já conseguiu sobreviver a partir de um aprofundamento em si mesmo, de quem “entrou para fora para sair de dentro”. Aliás isso não requer técnica ou gastos mirabolantes mas, sim, homens e mulheres corajosos de mostrarem a sua cara à sociedade para que essa mude rumos, trajetórias e destinos. É necessário compreender que a dependência pelas drogas, disseminada em sua maior parte por desvios comportamentais, deve ser enfrentada lucidamente por mudanças de costumes. Querer prevenir as drogas gastando-se milhares ou milhões de reais em propagandas absolutamente infrutíferas e da maneira que assistimos na tv, é estimular a frouxidão de costumes, a debilidade de caráter e, indiretamente, a própria disseminação da doença “Dependência Química”. É querer equipar um carro de corridas com para-choques de plástico e orientar o piloto a dirigi-lo na contramão, em plena competição.

*Presidente do Conselho Deliberativo da Fundação Frei Antonino Puglisi
Uberlândia-MG