Willian H. Stutz *

Não sei, por mais que se viva atento, tem um bando de coisas que nos fogem, escapam aos olhos, ao sentir, ao mais profundo e silencioso pensar. Manada de enormes girafas em seu absoluto silêncio passam às suas costas e você, entretido com um nada, deixa de perceber.
Não sei. Tiro noites a sonhar estrelas que, dizem , nem mais existem. Só nos chega um brilho espectral, eterno viajante a assombrar e encantar. Te conto baixinho que estas fantasmas de luz quando contadas a dedo fazem nascer verrugas, um perigo. Sobre nós um falso céu estrelado, mas como fogo fátuo, Boitatá protetor, continua a esquentar peito com beleza, sonho e poesia.
Penso, não sei direito, se tudo assim anda de formosura solitária nós também rumamos para um deserto de emoções puras.
Namoro/amor/encanto de aplicativo dura mais do que o vivido, tocado. Passam-se anos de convivência boa com troca, carinhos, amor, risos e afagos. É só entrar no relacionamento que aplicativos, trocas de mensagens, imagens, defectíveis mensagens vazias de bom dia, de oba chegou sexta-feira, fazem com que aquelas 24 horas chamadas segunda-feira tornem-se nossas inimigas, a lembrar que a vida não é para um fim de semana. Os aplicativos ampliaram ou deram voz e rosto ao ódio pela semana, raiva da vida.
Os risos, as gargalhadas transformadas em ridículos kkkkk, jajajajaja espanhóis, lol ingleses, risos de polidez, de cyber-etiqueta , Socila dos novos tempos.
O beijo, uma careta horrível com beiço de chipanzé. A expressão máxima do amor, outra cara de lua amarela com dois corações no lugar de olhos. Para cada expressão ou sentimento, uma figura.
Relações não podem existir fora das redes.
Você chega em casa recebe um oi, um beijo por um “app” que não significa área de Preservação Permanente” e muito menos “áreas de aproximação”, do inglês em torres de comando aéreo ” approach control”, mas algo como “aplicativo”. Aqui o app virou zap. O que seria numa analogia sonora gringa com “what`s up”, aqui, na bruta, virou ‘uatszapi” ou “zap” ou, pior ainda, “zap-zap”.
Sei, sei. Não sou o primeiro e acredito não serei o último a falar desses alienadores programas.
Assim meus amigos, dada as circunstâncias, resolvi falar o menos possível. Vou aderir a todas as tecnologias de comunicação, reduzindo palavras, rindo em Ks, chorando em snifs ou carinhas tristes. Desejando bons dias e espalhando ops, compartilhando curtidas e améns para não quebrar correntes nas quais até o filho Dele está batendo à sua porta, acompanhado quase sempre de alguma frase tipo “se você acredita, veja o que vai acontecer em sua vida”, além de fazer papel de idiota, é claro.
Vou salvar vidas de crianças com doenças raríssimas onde cada “curtida” vale uma doação virtual. Não vou procurar saber se o que compartilho é verdade ou um “Hoax” – olha a palavra criada para falso. Parece ou não nome de dragão nórdico, inimigo do Thor e assassino de aldeias Vikings? Pelo menos a linda e deliciosa donzela ele leva. Bobo nada!
Não sei. Quer saber ? Sei sim! Em um mundo real onde o assédio moral é uma constante e se traduz em isolamento e descaso, as redes sociais têm até um papel importante em denunciar o errado e de mobilizar. Sabendo usar são fantásticas. Aliás, sobre assédios e isolamento está no prelo um imenso artigo/crônica/caso. Sem pressa vou tecendo essa história e hora conto.
Use bem, mas quer um conselho? Quando chegar em casa, no bar, “here, there, anywhere”, desligue Faces, Instagrams, Twitters, Whatsapps. Desligue tudo! Caso contrário suas relações afetivas estarão por um fio.
E, queridos, quando quiserem um pouco de isolamento leiam um livro, escolham um bom filme, pois assim, mesmo longe, jamais ficarão irritados com chamados à cozinha, ao jardim para ver flores ou ao quintal para namorar lua e brilhos de estrelas que, para você, jamais estarão mortas. Eternamente belas e singelas.

* Médico Veterinário e escritor