William H. Stutz

Era um bichinho miudinho e não entendia a que veio.
Ficava o dia todo vendo seus iguais roerem folhas de amoreira numa tagarelice muda, todos a mastigar tenras e verdes folhas.
Tempo ido tocavam todos a se enrolar em casulos finos lindamente decorados de brilhantes fios prateados. Crisálidas únicas, perfeitas, iguais.
Por força de jejum voluntário atrasava seu curto ciclo.
De ninfa queria ser borboleta. Seu destino era voar. Queria o céu.
Observava que seus irmãos eram levados embora cedo, assim que morada prateada construíam. Nunca os viu de asas abertas a secar em preparo para vôo de liberdade.
Abandonou as folhas, alimentava-se apenas dos frutos, púrpuras e doces amoras. Quando por fim lhe veio o sono encapsular, teceu turmalinas, fios violeta-púrpuros como salsifis deslumbrantemente mágicos. Sua seda de tão pura e diferente cor passou despercebida das humanas mãos escravizadas pelo hábito, e em bela manhã rompeu fagueira. E na mais linda das violetas borboletas se transformou. Partiu.
E os homens mais uma vez, mergulhados em daltônica ignorância, presos em sua cobiça e mesmice, deixaram escapar por entre os dedos oportunidade única, rara jóia, a preciosa seda de um majestoso e único violeta.

*Veterinário e Escritor